domingo, 31 de maio de 2009

Festa do Divino II

crédito foto: Felipe Corrêa

Hoje é o último dia da Festa do Divino aqui no retiro...milhares de visitantes, dezenas de pequenos grupos de congada e moçambique dançando ao redor do centro histórico, todos ao mesmo tempo , criando uma cacofonia folclórica e visual e transpirando um sentimento de devoção misturada com alegria..

Mas turista é irritante, mesmo.... tá certo que durante algum tempo eu fui turista aqui antes de me mudar para cá, mas eu sempre respeitei as tradições da terra e amei esta terra pela história que se respira aqui no dia a dia.
Hoje tive o desprazer de me sentar perto de uma senhora que veio ver a festa e achou tudo muito "pobrinho"... a comida distribuída é ruim (ela acha que nos pousos de tropeiros serviam caviar?), as congadas são cafonas e a festa é em si desorganizada.
Pergunto, o que ela veio fazer aqui? Ela veio ver uma festa antiga, popular, da época do Brasil colônia e império, onde os pobres agradecem o pouco que recebem, e achou pobre?
Hora de invocar a Lei do Terreiro: BATE PRÁ SUBIR, QUE TÁ ENCHENDO O SACO !

Não me lembro exatamente quando, mas num ano em que eu ainda tinha uma loja uma perua encostou no café e começou a desfiar o rosário: é um desorganização, eles dançam e tocam todos ao mesmo tempo.... devia anunciar o nome do grupo que vai se apresentar e dar 30 minutos para cada um.... aquilo me subiu na garganta e eu disse MAS AQUI NÃO É A SAPUCAÍ !!!!!! Senhora, esta musica e dança é a forma de oração deles! Ninguém veio aqui desfilar para turista, eles vieram por devoção! Obviamente na hora que antecede ao culto principal eles todos querem também fazer sua orações em forma de canção e dança....

Eu não sou carola, nem gosto mesmo de igreja, mas acho que cada um tem de ser respeitado em suas escolhas, e neste caso cabe a necessidade de um "respeito cultural" porque eles não ganham nada, ensaiam, fazem roupas especiais para manter vivas tradições de 500 anos...

Olhai, irmãos, se tem uma coisa que continua santa desde a Idade Média, é a ignorância. SANTA IGNORÂNCIA.

Mas falemos das coisas amenas da festa: adorei ver que há cada vez mais jovens nos grupos de congada, porque anos atrás estava ficando preocupante, o grupo tinha cerca de 60 anos em média.. palmas para os jovens que se engrenaram nas tradições e palmas para os anciãos que tiveram a paciencia de ensina-los. (a foto de cima ilustra bem isto).

Eu tenho uma percepção talvez inusitada desta festa... eu moro na margem do rio do outro lado, o lado oposto ao do centro histórico, e bem no final da avenida que acompanha o rio... aqui em casa não chega o som de todos os instrumentos da batucada das congadas, mas chega o som dos surdões que marcam o passo deles................tum tum .......tum tum .....tum tum...... igualzinho a um monitor cardíaco.

Para mim, o que fica desta festa é o som de um coração gigante batendo forte, que ecoa desde o amanhecer até o anoitecer deste dia.

Uma festa que fala ao coração.


sexta-feira, 29 de maio de 2009

mulheres guerreiras

Mulheres que pegaram em armas.... guerreiras que teriam até ficado entre tantas outras anônimas não fosse o registro do seu valor.

Primeiro Jean, Joana D´arc, que num dia 30 de Maio foi condenada e queimada pela própria igreja (com minúscula proposital) que defendia....
Não vou discutir os méritos da loucura dela, porque afinal se já fabricassem Haldol para tratar todos que ouviam vozes muitos textos do Novo Testamento não existiriam... louca sim, mas deixando isto de lado, que GUERREIRA !

Uma menina de 15 anos, vestindo uma armadura e portando uma espada igual à dos homens (eu já peguei uma na mão, ela pesa mais de 8 kg e é muito difícil conseguir segura-la com uma mão só e manter a ponta erguida), aos brados de "Sigam-me os bons!" liderou um exército que estava sem rumo, sem comando e sem inspiração.
Foi vendida por este mesmo exército após conquistar para eles a vitória esperada, e pasmem, depois de muito tempo presa foi obrigada a abandonar as roupas masculinas e só então os soldados ingleses conseguiram finalmente estupra-la, um requisito para que o tribunal pudesse condena-la à morte, porque a lei de então proibia a execução de virgens...

Relatos árabes das cruzadas: tremam, guerreiros, aproxima-se a figura assustadora de Hilde.
Chegada à Terra Santa com o marido normando e 3 filhos homens que vinham para a Cruzada (interessante, os nomes deles não foram preservados pelos cronistas inimigos, apenas a bravura de Hilde), após enfrentar doenças, fome e provações Hilde se viu com armas na mão no campo de batalha...

Acostumados a mulheres miúdas e morenas, a figura gigante da normanda louríssima de olhos azuis e porte avantajado, montada num cavalo negro tambem gigante (provavelmente da raça frísia, trazido de terras escandinavas) impressionou tanto os árabes que eles registraram o nome de uma reles mulher no ranking de guerreiros inimigos valorosos.
Ela lutava apeada, flanqueada nas costas pelo cavalo gigante, com dois machados vikings, um em cada mão.
Dá para imaginar a figura? O desespero de quem já viu morrer todos os entes queridos e não tem mais nada a perder?
Se os árabes conhecessem os mitos das terras de Hilde saberiam que estavam na frente de uma Walkíria enfurecida...

No mundo moderno há muitas mulheres nas forças policiais e armadas, mas nestes tempos antigos as que lutaram tiveram antes que vencer uma luta para conquistar o direito de lutar e imagino se nos batalhões de hoje elas ainda teem que se provar o tempo todo pelas mesma razões.

Este texto não é uma metáfora para mulheres lutadoras, vidas difíceis, etc, etc, etc,
É para falar de mulheres que venceram suas limitações físicas e enfrentaram homens em campos de batalha de igual para igual (puxar um gatilho é facil, mas guerrear naquele tempo era bem diferente), fosse qual fosse a causa, insana ou desesperada, de fé ou de sobrevivência, possível ou suicida.
Guerreiras implacáveis, que tendo nascido sem o cromossomo da violência e da força física, ao serem colocadas em situação de necessidade se superaram e se sublimaram. Porque para uma mulher matar alguém, ainda mais usando armas brancas, é necessário ultrapassar uma barreira invisível de um sentimento intenso de proteção à vida que vem no software do cromossomo X (que o digam os profilers do FBI, que afirmam que menos de 10% dos assassinatos cruentos são cometidos por mulheres).

Que GUERREIRAS!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

caminhos

Caminhos, estradas, são coisas muito mágicas. Todo dia você escolhe um destino, uma meta, uma forma de chegar lá... é um caminho facil ou tem obstáculos?
Gandalf no Senhor dos Anéis diz: "caminhos são muito perigosos, porque nunca se sabe onde vão dar, do mesmo jeito que se vai, pode vir algo tambem."
Quase a mesma coisa disse Heráclito: "O caminho que sobe é o mesmo que desce". Voce escolheu subir ou descer?

O Grande Aníbal, nos alpes, com uma tropa de elefantes se dirigindo para invadir Roma disse: " Se não houver caminho, nós faremos um!"

Há aqueles que gostam tanto do caminho, da busca, da jornada, que ao chegar não pestanejam e lançam uma flecha em direção ao próximo destino. É o caminho estimado pelo que ele é, ao invés de para onde ele conduz.
É o caso do Caminho de Santiago de Compostela, um caminho de Iluminação

O engraçado é que pensamos o tempo todo que estamos no controle da direção a seguir, e não percebemos que o caminho já foi traçado.. O Talmud diz que "Somos sempre levados para os caminhos que desejamos percorrer".
Escolher um caminho numa encruzilhada é uma oportunidade travestida de angústia, um momento em que se pode tudo sem saber no entanto o que se vai atingir e carrega-se o peso da decisão onde algum lado tem que ser perdido.

Os caminhos são metáforas para evolução, direcionamento, objetivos, modo de agir, mas como disse Fernando Pessoa, todos os caminhos são mágicos se nos levam aos nossos sonhos.

Caminhos difíceis são sinônimos de vidas difíceis, mas os poetas cuidaram tambem de saber isto: " Devemos fazer da interrupção um caminho novo... Pedras no caminho? guardo todas, um dia vou construir um castelo" (Fernando Pessoa)
É dificil conseguir enxergar e discernir qual é realmente o nosso caminho... o anjo da guarda faz uma única pergunta o tempo todo: O que voce quer?

É um caminho solidário ou solitário?
É uma missão ou apenas um passeio?

Na verdade não importa, porque ao final teremos encontrado coisas que não esperávamos, crescido como nunca imaginávamos, e mudado de direção como se fôssemos uma biruta, tantas vezes, tantas vezes, que perdemos a noção do que éramos na origem. Fica a pergunta soprando no ouvido: O que voce quer?

Houve uma vez um cara cabeludo, marxista, feminista, revolucionário, que disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.... ninguem o escutou, os que escutaram distorceram as informações e criaram caminhos com suas próprias caras...
Mas " é justamente porque não sabia para onde ia que a humanidade conseguiu encontrar seu caminho" (Oscar Wilde)

Enfim... o caminho pode ser de terra batida, como eu gosto, ou de água, ou até feito de nuvens... mas continua sendo perigoso como disse Gandalf...

Porém é bom não esquecer o ditado dos bascos (seeeempre bem humorados, eles...) "O caminho do inferno é pavimentado com boas intenções."

Esta salada de citações foi proposital, porque é bom ver os caminhos diferentes que seguem as mentes brilhantes...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

fadas

esta fada é uma das pinturas de Amy Brown, artista da categoria de phantasy art que pode ser encontrada em http://www.amybrownart.com/, ela só desenha fadas.

Porque as pessoas acreditam em fadas há milhares de anos?
Encontra-se relatos de pequenos seres alados na grécia, egito, oriente médio... as aparições sempre estão relacionadas com um contato mais próximo com a natureza ou fontes de água e sempre são relacionadas com poderes de proteção desta própria natureza.
Nunca realmente acreditaram nelas, ou então não teriam dado o nome de contos de fadas às estorias infantis que são fantasias deslavadas.

As Sílphides, elementais do ar da mitologia antiga eram responsáveis por comunicar aos deuses o que ocorria nas florestas, e também por proteger as criaturas das florestas, e elas tinham a característica de se comunicar com os homens soprando nos ouvidos deles.
"Varinhas de condão" seriam seu instrumento de poder, e uma música suave seu tom de voz.
Além de uma beleza plástica irretocável, elas carregam uma aura de bondade, de autoridade afável e conhecimento das dimensões além da nossa, uma ponte entre realidade e além realidade.
Embora tambem sejam criaturas aladas, elas não teem nada a ver com anjos, eles carregam estórias muito diferentes, as fadas são criações da mentalidade pagã.


Enfim, a comunhão do homem com a natureza o coloca frente ao fato de que ele é nada e depnde dela totalmente, portanto fica mais fácil viver achando que doces criaturas aladas farão uma ponte entre voce e a imensidão do poder da natureza....

A melhor descrição de fadas (ou elfos) que eu já vi foi dita por um pequeno hobbit, Sam, no Senhor dos Anéis: "Acho que existem elfos e elfos. Todos são bastante élficos, mas não são todos iguais. Não são andarilhos sem lar, parecem pertencer a este lugar (floresta). Se fizeram a terra ou a terra os fez é difícil dizer. Aqui tudo é maravilhosamente silencioso. Parece que nada está acontecendo, e parece que ninguem quer que nada aconteça. Se existe alguma mágica, está muito bem escondida, num lugar que não posso alcançar com as mãos."

Eu creio que o retiro seria um lar perfeito para fadas, mas nunca vi nenhuma... vai ver não sou merecedora, ou aqui não há bosques antigos o suficiente para abrigar estas pequenas criaturas.

Alguem conhece um criadouro de onde possamos trazer algumas para ambientar aqui?

outra do Tatá


Este elemento foi recolhido em 2001 da rua, bem novinho. Era fofo, inofensivo, lindo, e recebeu o nome de Talismã. Aos 6 meses começou a aprontar, de início arrancou o barrado de papel de parede do apartamento.... puxava e picava a noite toda, quando acordávamos no dia seguinte a casa estava coberta de "confete"...

De tanto tomar broncas, passou a ser chamado de Tatá.

O Tatá tem um paladar particular, além de papel de parede ele a-do-ra comer metal.
Em 2003 engoliu uma agulha enorme de tapeçaria, bem na minha frente... corri com ele no colo para o Provet, para fazer um RX e pasmem, enquanto esperávamos a revelação ele derrubou a lixeira do escritório e tentou comer uns clips de papel bem na nossa frente.... neste dia meu filho Rafael, o dono do elemento em questão proferiu um sonoro" VOLTA PARA AS PROFUNDEZAS DE ONDE VOCE VEIO TATANÁS!!!!"
A Luciana, radiologista que o atendeu com a maior gentileza nessas ocasiões, disse pra ele: se voce não tomar cuidado, vai acabar virando um porta-trecos....

Bom ontem ele deu outro BO aqui em casa e quase me matou de susto... estava trabalhando no computador (eu, não ele) e ouvi ao longe algo caindo, mas não liguei... depois de vez em quando escutava um miado abafado, longe... comecei a contar os gatos pela casa (procedimento de campo de batalha...) e faltava o Tatá... abri todos os armários, e nada... verifiquei as janelas, fechadas... eu chamava e ele já não respondia... de repente me deu um estalo e comecei a puxar caixas de estoque do atelier, depois de umas 10 caixas pesadas, lá atrás do depósito, achei o Tatá desmaiado, deve ter ficado um tempo sob o peso de 2 caixas.

Bom, o cara pelo menos é esperto, pediu asilo em casa de veterinária ... corri com ele para debaixo de uma torneira aberta até ele acordar, mediquei, deixei 2 dias em observação e hoje emito este laudo: ele está em perfeito (?) estado de juízo e físico...

mas ele não é fofo?

aqui está o Tatá num momento comico com o pai dele, detalhe: ele não tomou cerveja de verdade

segunda-feira, 25 de maio de 2009

é evolução?

Doenças Negligenciadas

A Organização Médicos Sem Fronteiras lança o relatório "Desequilíbrio Fatal" que pode ser baixado em pdf gratuitamente, onde dá informações assustadoras sobre a "evolução" das pesquisas médicas farmaceuticas: 90% do orçamento de pesquisas é destinado a doenças que acometem apenas 10% da população mundial.
Doenças que acometem pobres em países pobres, como a dengue, malária e tuberculose, que atingem 100 milhões de pessoas por ano e matam 10 milhões de pessoas por ano, não teem remédios novos desenvolvidos há mais de 30 anos, porque estes medicamentos não teriam retorno financeiro interessante.
Isto é: se as pessoas que teem tais doenças não podem pagar preços de mercado pelos medicamentos, porque fazer os medicamentos? Eles são cidadãos descartáveis num mundo onde o mercado financeiro dita quem vive, quem morre e quem "vale a pena" existir.
Isto equivale a dizer que a indústria farmacêutica está fazendo um controle ativo de população no mundo de forma velada, uma seleção que não fica nada a dever da executada na entrada dos campos de concentração.

Mas olhe, a natureza sempre revolve e resolve.... a tuberculose teve mutações nos últimos anos que acenderam luzes de alarme nos países desenvolvidos, porque a nova super tuberculose não tem tratamento (ironia...)... e mais, as pessoas não devem esquecer que nos próximos 20 anos a temperatura base nos países desenvolvidos pode subir 4 graus, aumentando a área de invasão de doenças como malária e dengue hemorrágica (entre outras doenças chamadas "tropicais", um codinome para "de países subdesenvolvidos e desinteressantes" ) que poderão alcançar seus territórios e seus moradores abastados, em regiões como a Flórida, Texas, Costa do Mediterrâneo.Daí ele vão pesquisar a cura, e ainda ser obrigados a ajudar a controlar os focos nas latitudes mais ao sul!

A medicina evoluiu. Mas não para todos. Enquanto num Pronto Socorro nos EUA um paciente com um corte no dedo é submetido a 30 exames laboratoriais desnecessários apenas para evitar problemas judiciais, na África crianças morrem (centenas de casa vez) de Krupe por falta de uma única dose de eritromicina, um antibiótico antigo e barato.


PÁRA O MUNDO, QUE EU QUERO DESCER!

domingo, 24 de maio de 2009

Festa do Divino


crédito foto: Felipe Corrêa


Esta fim de semana começou a Festa do Divino Espírito Santo aqui no retiro, uma festa que tem 500 anos de vida desde que foi criada pela Rainha Isabel, em Portugal. Acho que aqui é um dos poucos lugares que restam no Brasil onde a Festa do Divino tem todas as manifestações folclóricas, religiosas e profanas associadas e presentes. A Igreja tende a acabar com esta festa, porque ela é um resquício de festas pagãs da colheita, não tem nada a ver com o calendário católico, inclusive a data varia durante o ano todo nas diversas partes do Brasil.
A cidade fica charmosa... todas as casa antigas com bandeiras do divino vermelhas nas janelas, barraquinha de bingo, shows no coreto central, mas o grande espetáculo é o povo que aflui para esta festa.
Começa às 4:30 da manhã.. encostam ônibus que veem de longe com pessoas de idade, fantasiadas com capricho, que acordam a cidade ao som de batida do coração dos tambores da congada.. uma peregrinação de fé, de garra, e de resistência à extinção, porque os membros mais novos das congadas já são cinquentões. Eles dão toda a volta no centro histórico, acordando o povo para a festa com sorrisos enormes nos rostos cansados que viajaram a noite toda. Durante a manhã, chegam mais grupos de congada, maracatú, etc, e a praça fica viva, musicada e colorida.
O dia todo há missas, procissões, desfiles dos grupos musicais... e o povo que vem ver esta festa é composto de pessoas simples, dos sítios e de outras cidades pequenas, que veem arrumados e entusiasmados para ver o movimento, para rezar e agradecer.
Porque este é o GRANDE LANCE desta festa, ela é uma festa de agradecimento pela abundância que a natureza provê. A produção de cada lugar é partilhada com o povo, aqui em São Luiz é distribuído o Afogado, comida típica de tropeiros feita com carne ensopada, porque esta é uma região de pecuária. Esta ano serviram 10.000 refeições para o povo que veio ver a festa. Em outros lugares do Brasil se distribui as safras que se produz e a festa é realizada na época da safra, para agradecer a benção que a terra provê.


Às vezes é preciso para de pedir a Deus e agradecer tudo que se recebe e muitas vezes não se percebe.


No excelente blog de Arnaldo Bonsch, fotógrafo residente par time em São Luiz, há imagens belíssimas e informações sobre esta e outras festas do retiro: http://www.sanlupa.blogspot.com/


quinta-feira, 21 de maio de 2009

casas e cavernas


conversando com minha tiazinha querida que quer me convencer a voltar a morar em Campinas..... o assunto mudar de casa, mudar de cidade... onde é "casa" ?
Casa é para você mesmo ou para outros verem? Você usa todas as partes da sua casa ou elas são apenas adendos ao seu morar? Você espalha suas tralhas ou se contem numa organização eficiente? Você olha pelas janelas para ver o horizonte além do jardim? Tem plantas que precisam ser regadas e acarinhadas ou qualquer outra coisa viva que dependa de você?
Quanto tempo voce passa em sua casa? A casa é aberta a visitantes ou uma toca de reclusão? Há espaço de verdade para outros em sua casa?

Sua casa é onde voce quer estar, ou onde voce tem que estar? Casa tem que ter requintes de luxo ou é onde você pode ficar à vontade? Que casa acolhe você melhor, casa ou caverna, e como a vê, abrigo ou prisão?

Já ouvi todo tipo de comentários sobre casas: a casa tem a cara do dono; a casa é um reduto de energia que afeta a vida do dono para melhor ou pior; casa e lar não são a mesma coisa, casa (lar) é onde o coração está....nem me lembro mais quantos comentários ouvi.
Já conheci pessoas errantes, que não tinham noção de "casa" na vida delas... , já conheci pessoas ficantes que nasceram, cresceram, casaram, procriaram e viveram toda a vida numa mesma casa... será que a nossa casa traduz nosso espírito ou a casa em que estamos é apenas mais uma circunstância?

Já aconteceu de poder realmente escolher um local onde quisesse morar e ter a felicidade de conseguir dar este passo? Já aconteceu de ter que sair de um lugar que amava porque ficou inviável? Já passou pela tristeza de sair de casa porque a família se separou? Será que existe maior tristeza e medo do que estar desabrigado por causa de uma catastrofe?

Como dar o passo de mudar de casa, como procurar e encontrar uma casa, como saber que ali é o seu lugar?

Olhando para a calçada do retiro eu vejo árvores enormes, que são a casa de famílias de macaquinhos e pássaros. Casa vivas, pulsantes, que frutificam. Atrás da minha casa existe um paredão de 12 metros de altura onde as aves cavaram pequenas tocas para fazer ninhos... um prédio de apartamentos com dezenas de ninhos. No muro tem um buraco qualquer que é a casa da Sissília, uma espécie de lagartixa gigante (ela tem uns 30cm) que há no retiro, que protege a casa da invasão de criaturas rastejantes.

Onde é casa? Onde há lembranças ou onde há futuro? Um lugar que te pertence ou um lugar ao qual você pertence? Onde há fadas ou gárgulas?

Se a nossa casa tem a nossa cara, quando achar a casa que procura você vai ser você mesmo ou vai ser outra pessoa?

ver estrelas....

Alguns dias atrás recebemos no retiro a visita de um astrônomo, que teve a delicadeza de vir à nossa rua na beira do rio que é muito escura para nos mostrar figuras reconhecíveis no céu.

Foi um deslumbre, o gigante Órion estava caminhando no horizonte enquanto o centauro avançava em sua direção... de repente aquelas luzes mágicas tinham nome, identidade, e para quem conhece mitologia tinham até uma biografia... Berenice procurava sua cabeleira perdida enquanto Sirius aguardava sua vez de nascer no horizonte do Egito para marcar a estação das cheias...

Alguém sabe porque a gente fica com lágrimas nos olhos e um nó na garganta quando se põe a observar as estrelas? Que tipo de memórias elas arrancam das nossas entranhas? Porque vivemos à margem deste show diário sem reparar?

Estas são as Plêiades, conhecidas dos gregos como " as 7 irmãs que choram" . O fato curioso se deu quando a Tchuzinha lembrou que estando no EUA ficou sabendo que os brancos enxergam 7 estrelas maiores, mas os indígenas americanos conseguem ver apenas 6 delas, por alguma característica genética que afeta a conformação da retina....

E que estranha linha de tempo essa, que nos permite ver a luz de estrelas que já morreram há milhares de anos? Luz do passado, será por isso que nos provoca melancolia?

Bom, isso é a vida no retiro, lua nova na beira do rio, coral de sapos e grilos, o mesmo céu que abraça o mundo inteiro é mais apreciado aqui, a estrela que passa agora sobre a minha cabeça vai alcançar voce logo logo (e pasme, você ou eu podemos estar vendo mais estrelas ou perdendo alguma estrela por aí, mas elas não ligam a mínima.)

terça-feira, 19 de maio de 2009

parece bolero....



Um salão antiquado à meia luz. Um bolero chorando na vitrola.
“Dicen que la distancia es el olvido pero yo no concibo esa razón,”


Ele chegou acabrunhado, o sorriso largo mal escondendo o coração saindo pela boca, e estendeu a mão para ela, não apenas ela, AQUELA......
“porque yo seguiré siendo el cautivo de los caprichos de tu corazón.”

Ela se levantou, a mão trêmula encontrou a dele, um braço a puxou para o peito como um cais que ancora um barco que vagava.
”Supiste esclarecer mis pensamientos me diste la verdad que yo soñe”

Ele pensou que conduzia, ela não percebeu que seguia, dois pra lá, dois pra cá e as luzes rodando numa dança estranha onde os pés não se atrapalham, vertigem segura.
”auyentaste de mi los sufrimientos en la primera noche que te amé.”

O bolero continuava quando os olhos se fisgaram. Olhos nos olhos, o mundo sumiu num abraço apertado que pôs a centímetros dois corações adolescentes aprisionados em peitos velhos renitentes.
”Hoy mi playa se viste de amargura porque tu barca tiene que partir, a cruzar otros mares de locura, cuida que no naufrague tu vivir. ”

Queixo de um no pescoço do outro, ele cantarolando no ouvido dela, ela prende a respiração para eternizar este abraço completo, passado e futuro...

Acordaram assustados, distantes milhares de quilômetros, fusos horários e mundos inconciliáveis... os despertadores histéricos exigindo mais um dia urgente numa vida coerente...

Só os espelhos perceberam o sorriso abobado e o bolero cantarolado, mas espelhos não podem imaginar o perfume que ali não está, e nem a música que nunca vai tocar, mas mesmo assim não pára....
“Cuando la luz del sol se esté apagando y te sientas cansado de vagar, piensa que yo por ti estaré esperando hasta que tu decidas regresar”

Ele entrou no táxi de todos os dias e suspirou...
Ela suspirou sobre o quebra cabeça da vida ...


... nos suspiros, o beijo que faltou
.


para Emilio, in memorian


enredos

Desde criança eu tenho o hábito estranho de, ouvindo uma música, criar uma estória que ela descreve ou encobre.
Isto às vezes me deixava perdida com a mente vagando, outras vezes me fazia rir sem propósito aparente, porque a paródia era melhor que o drama.... de qualquer forma, meio pancada!

Escolhi um bolero para começar , engraçado como a gente muda, quando jovem eu dizia que bolero, para mim, só o de Ravel... ... hoje, milhares de cores, sonhos e lágrimas depois eu adoro boleros ....*smile*

Nesta categoria resgato alguns destes enredos que foram guardados, escritos durante anos passados.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Lei das Cordas


O pensamento kabbalistico define qualquer relação de energia entre duas pessoas como uma estrada de mão dupla.
Os bons pensamentos e as boas ações são como raios de energia, que disparam em direção ao alvo e voltam com a mesma intensidade para quem emitiu, mas de forma livre e fugaz.

Os pensamentos de inveja, ira, rancor, maledicência e mesquinhez são como cordas, ao invés dos raios da energia boa eles ficam prendendo quem emitiu a quem recebeu, num continuum de tempo e espaço de que é impossível se libertar, e cujos nós são mais apertados conforme maior a intensidade do sentimento.


O texto original do Pai Nosso, traduzido diretamente dos pergaminhos do Mar Morto diz: "liberai as amarras que nos prendem a nossos erros, assim como liberaremos as amarras com que prendemos os erros dos nossos irmãos". ( ao invés de "perdoai nossos pecados assim como perdoamos àqueles que nos tenham ofendido").

A Lei das Cordas diz que o que você deseja ao outro amarra você a ele com a mesma intenção e intensidade...
Decorre deste princípio que apenas perdoar não basta, é preciso orar para que o outro seja perdoado e redimido tambem, porque voce tambem está preso aos erros dele.

Para se livrar das cordas com que pessoas invejosas o prenderam peça a Deus por eles, para que vejam o erro e tambem se libertem, porque a corda não pode ser desamarrada apenas de um lado.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Lei da Propriedade


Novamente os Povos das Tendas e seu modo de vida...
Eles dizem que se voce tem uma propriedade que não pode carregar consigo, ela pertence 50% a voce e 50% às circunstâncias.
A terra, o bem mais estável e ambicionado, pode ser movida por terremotos, inundada, confiscada, invadida, tombada, desvalorizada, dividida... ninguém é dono da terra, e sim proprietário temporário circunstancial.
Na hora em que é preciso levantar o acampamento, só o que se pode carregar é realmente seu , que o digam os que já passaram por perseguições, campos de concentração, exílio...

Os bens móveis... jóias, veículos e outros... são seus, enquanto voce puder carrega-los. Os camelos adoecem, fogem. Com o passar do tempo se carrega cada vez menos peso, e acaba que os anciãos carregam apenas o bem maior da sabedoria e o tesouro das recordações.
O único bem que fica é o que voce leva sem peso dentro de voce, não tem valor de mercado e transcende a vida física pronto para recomeçar a evolução na próxima rodada.
Os casos mais graves de materialismo indigente são das pessoas que são possuídas pelos seus bens... gente que vive casamentos disfuncionais para não dividir patrimônio, deixa de viver mais proximo da família e aproveitar oportunidades de conhecer lugares novos para não deixar os bens " descobertos".... vi uma vez um caso de uma senhora que tratando um cancer grave não se preocupava com sua doença, mas com o fato de que marido ia ficar com toda a parte dela dos bens!

Alexandre, o homem mais ambicioso que já viveu, tinha certeza de que era um deus e imortal, e conquistou todo o mundo e os tesouros conhecidos.
Morreu aos 32 anos de idade, vitimado por uma diarréia que durou 3 meses.
Pouco antes de morrer, para surpresa dos seus generais, ele pediu para ser velado com as mãos abertas e expostas, para que o povo visse que ele não levou NADA consigo, e deu ordens para ser enterrado em local secreto para que não se fizessem honras ou cultos à sua personalidade.
Parece que a diarréia é uma excelente professora...

PS do dia 13 de Maio
Houve tempo em que pessoas se consideraram proprietárias de outras pessoas, simplesmente porque elas eram diferentes, ignorando que dentro das "peças", como eram chamados os escravos, havia almas nobres, dignas, um intelecto normal e a mesma centelha de vida que há em todos nós. Triste noção de propriedade.


Lei do Reflexo

"As a man is, so he sees."
Em tão poucas palavras ( admirável capacidade de síntese da lingua inglesa!) William Blake, poeta do seculo XVI definiu a Lei do Reflexo.

O homem não enxerga nada além de si mesmo, vê e julga o mundo através de si mesmo, e usando sua própria óptica ele dá sentenças e definições para tudo e todos em volta, como se TODO o imenso resto do mundo fosse apenas uma extensão dele.

Não adianta pedir conselhos a um rico se voce está pobre e desempregado, ele vai dizer "pague todas as suas dívidas e comece um negocio novo"....(lembra Maria Antonieta, não têm pão comam bolo!)
Alguém que já esteve pobre e agora não está mais poderá lhe dizer: vamos nos sentar e ver quais as suas opções, porque ele aprendeu a ver o outro lado.

O maliciosos vêm em tudo e todos apenas um reflexo de sua libidinagem.
Os mesquinhos vêm todos querendo explora-los porque é exatamente como procedem.
Os fanáticos vêm guerras santas para todo lado porque eles têm a ignorância beligerante.
Os preconceituosos acusam diferenças nos outros de dentro da prisão engessada que é a incapacidade deles próprios se diferenciarem.

Decorre daí que muitas vezes nos queixamos de problemas que vêm de dentro de nós mesmos para nos assombrar, e que a forma como vemos as situações não contempla a realidade total. É preciso refletir " Sou EU que dou significado a tudo que vejo"

O grande salto, que determina a capacidade de sair da prisão do reflexo é se colocar no lugar no outro. De verdade, profundamente, com o coração e a razão, caminhar na estrada que o outro viaja usando os sapatos dele e carregando o mesmo fardo.

Se todos fizessem isso, desapareceriam as opiniões e sentenças que emitimos sobre a vida alheia sem perdão nem reflexão, desapareceriam os rótulos, os estereótipos, a intolerância.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dia das Mães

Eu tive três mães.... pode parecer estranho, mas é fato.
Minha mãe tinha 2 irmãs que não tiveram filhos, e como elas eram super unidas (se encontravam TODOS os dias) eu acabei criada pelas três. Foi lucro, porque eram muito diferentes uma da outra: da Tia Bela eu herdei o gosto pela leitura, pela Filosofia e debate, da Tia Carola eu herdei o amor por outras culturas e línguas, a ânsia de viajar para outros lados do mundo e de apreciar o belo. Da minha mãe Tereza eu herdei o cabelo avermelhado, uma verruguinha no lado do rosto, um gênio forte e muita garra, um pouco de talento para pintura e música, e sobretudo a impaciência. Me lembro dela (sargentão) falando vamos, vamos, e hoje me vejo falando da mesma forma com meus filhos...risos... na minha casa, criando 3 homens sozinha eu costumava dizer que eles não precisavam de mãe, precisavam de um sargento!
Das três, duas já me foram tiradas muito cedo, e eu cultivo o quanto posso a presença da Carolinha, minha mãe de plantão.

Maternidade é uma coisa muito diferente para cada mulher. Umas são mães por acidente, outras por planejamento, outras por circunstâncias, outras ainda por afinidade.
Há amigas que são mães da gente e mães que são amigas.
Há mulheres que não teem vocação para a maternidade e são execradas como se fossem aliens, enquanto há mulheres que acabam doidas porque precisam trabalhar muito e não dão conta de se dedicar o quanto gostariam aos filhos e acabam culpadas se entupindo de anti depressivos.

O grande milagre não é a maternidade, como os publicitários querem nos fazer crer, o grande milagre é que todos esses filhos sobrevivem e todos acabam criados, COM, SEM, ou APESAR das mães. Acho que este dia devia se chamar Dia dos Filhos, os sobreviventes.
Outro milagre é que, no fim, eles acham que nós, acidentadas, desorientadas, piegas, chantagistas emocionais, working girls com agendas malucas e outras patologias, fomos mães perfeitas...

Valha-me Deus, esse é que é o MILAGRE!

sábado, 9 de maio de 2009

herança genética


Recebi novas informações sobre minha bisavó Carolina Ferraz, da região de Jaú, casada com o já celebrado bivô Jorge...

Filha de um fazendeiro de café, aos 15 anos se casou com o bivô Jorge, recém chegado do Líbano. A garota se apaixonou pelo estrangeiro que vinha negociar terras com seu pai, e embora não apreciasse muito a ascendência dele se casaram em 1895, uma situação nova para a sociedade da época, e tiveram 15 filhos. Esta situação nova, integrando um imigrante estrangeiro à sociedade e família tradicional paulista gerou um fato incomum: ao invés de dar aos filhos o sobrenome árabe da família dele, ela adicionou ao nome dos filhos (mesmo as meninas) o primeiro nome dele, Jorge, e depois o sobrenome dela, Ferraz.
Para a época, ela era muito moderna... fumava, montava a cavalo sentada como os homens e não de lado, conferia os trabalhos da fazenda , pagava os empregados e inclusive embarcava com o café que seguia para Santos num caminhão, junto com eles.
Tinha um gênio muito difícil, passava às vezes dias trancada num quarto. Andava armada pela fazenda e não acredito que alguém duvidasse que ela atiraria.
Acho mesmo que ficavam morrendo de medo quando ela estava de mau humor.
Mão de ferro para educar os filhos, aquele que desobedecesse era deixado somente com roupas de dormir (que na época pareciam camisolas), para que não saísse de casa.
O primeiro automóvel da região foi dela, um Oldsmobille que somente ela dirigia e que seu filho, meu avô Antonio Jorge pegou "emprestado" e bateu numa árvore.
Chiquésima, mandava buscar vestidos e chapéus em Paris e passava suas tardes bordando tapeçarias, seu traje de montaria incluía saias-calça moderníssimas para a época, chapéu e luvas. Nunca foi afeita às prendas domésticas.... as crianças eram cuidadas pelas mucamas, e mesmo quando os netos nasciam ela fazia apenas uma breve visita de 15 minutos e pronto, seu parquimetro de contato com crianças expirava.
Morreu cedo, aos 50 anos, deixando 9 filhos vivos e o marido.

Detalhe: a Fera tinha menos de 1,50m de altura... aquele ditado que diz que nos pequenos frascos se guarda os melhores perfumes e os piores venenos se aplica.

Outro detalhe: melhor não fazerem comentários tipo "voce teve a quem puxar"


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Lei do Acolhimento


Os Povos das Tendas (habitantes do deserto) têm uma visão moldada pelas suas condições duríssimas de vida, que acabou por criar em decorrência um código moral, um código de propriedade e outros, uma escala de valores particular que é baseada nas necessidades mais primárias do ser humano para sobreviver.

Contam as lendas que a tenda de Abraão (pai de ambas as nações, árabe e israelita) ficava sempre com aberturas voltadas para as quatro direções, de forma que se houvessem viajantes vindos de qualquer parte saberiam que ali havia hospitalidade.

A mitzvah (mandamento, missão) judaica de hospitalidade tem prioridade sobre qualquer outra, a qualquer momento, e se denomina eschel (orquidário, hospedaria, abrigo). A palavra eschel também é um acróstico para as palavras que definem comida , bebida e escolta. Isto quer dizer que qualquer pessoa (de qualquer etnia, religião ou origem social) que precisasse teria sua fome e sede saciadas e estaria em segurança.
Outra parte da lenda diz que Abraão e Sara não alimentavam apenas os corpos destes viajantes, mas tambem suas almas, com sabedoria e inspiração, e na hora dos convidados partirem não aceitavam para si os agradecimentos, e sim em nome dAquele a quem deviam todas as provisões de pão e de sabedoria.

Pondo à parte os viajantes cansados do deserto, a Lei da Hospitalidade poderia tambem na tenda do coração receber e proteger pessoas e conceitos diferentes de nós , e garantir a eles o direito de existir e de seguir em paz.
Eu diria que uma melhor definição da essência desta Lei em portugues seria dada pelo verbo ACOLHER.
É necessário começar a acolher em casa, os filhos não precisam apenas de comida e água, mas de alimento espiritual e de garantia de segurança, tanto física quanto emocional.
O mesmo com relação aos antigos (eu não gosto do termo velhos).

"A generosidade precisa ser medida com delicada sensibilidade para encontrar e atender a real necessidade do receptor. "

"A generosidade não eleva aos céus apenas as pessoas que a praticam, mas deixa tambem sua marca no local onde é praticada."

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Lei do Pasto


Imagine que há um pasto com 100 vacas, para tomar conta delas alguns cavalos e um cavaleiro, que junto com outros cavaleiros se reporta ao fazendeiro.
O mundo é uma imensa pirâmide de ângulo muito fechado, onde a cada nível que se sobe o número de indivíduos diminue incrívelmente.

Imagine que o fazendeiro, junto com todos os outros fazendeiros, são dirigidos pelo Admnistrador 1. Os Admnistradores 1 são regidos por um Admnistrador 2, que vê todos os fazendeiros como mais um rebanho que ele tem que dirigir entre tantas outras classes. O Admnistrador 2 e todos seus colegas são regidos pelo Grande Adminstrador, que vê o conjunto de todos os rebanhos e Admnistradores dentro de um contexto nacional, e os manobra pra cá e pra lá, mas tem que se reportar ao admnistrador da nação mais forte, que por sua vez se reporta ao órgão internacional das nações. e assim a piramide vai encolhendo em número de pessoas, e diminuindo em individualidade.

Enfim, no pináculo, onde Só Existe UM, o  Administrador Divino está tão distante que só enxerga uma mancha verde numa bola, e vê tudo como se fosse um grande pasto, todos os componentes são reduzidos apenas a zilhões de folhas de grama.
Se Ele acordar de mau humor qualquer dia, pode decretar 10 anos de seca, para depois começar do ZERO um novo jardim, com plantas diferentes que dêem menos trabalho.

Essa é a Lei do Pasto. Não importa quem voce seja, voce é pasto de alguem, cavalo de alguem, peão de alguem, fazendeiro de alguma cooperativa que é componente de alguma classe , de alguma região, de algum país, de algum continente de algum planeta.
Mas no fim, são todos folhinhas de grama.

E nas democracias, são as vacas do rebanho que escolhem o  Grande Admnistradore!
(como disse Winston Churchill: o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de 5 minutos com um eleitor mediano.)
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boas ações


Já percebeu como nos sentimos bem ao dar um presente que a pessoa gosta ou precisa muito? É uma sensação de plenitude, uma das poucas e fugazes ocasiões em que nos sentimos saciados dando ao invés de recebendo.

Um kabbalista recebeu um livro de estudos, importantíssimo e caro, de presente anônimo de algum outro kabbalista do seu grupo. Dentro do livro havia um cartão branco, com 2 palavras escritas à mão: THANK YOU.

O kabbalista que deu o precioso presente, a oportunidade do colega crescer, foi quem agradeceu.

Os kabbalistas sabem que há 2 mundos e em cada um deles um tipo de moeda. 

Cada ato de generosidade desinteressada ou favor prestado a alguem que precisa (Tsedaká) gera créditos em segulah, a moeda do plano espiritual. Assim, o kabbalista agradece a oportunidade de dar, de ajudar, e de por um breve momento ser um pouquinho mais parecido com o Criador, que só dá o tempo inteiro. (Olhaí, esse Cara deve ser sentir muuuuuuuito bem).

É claro que é preciso SABER dar. Como naquela estória, de que não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar, porque assim voce está dando oportunidade de crescimento ao outro, sem impor a ele freios ou parâmetros.


É dando que se recebe... da poupança celestial de segulah (que indica seu merecimento) é que saem coisas como curas, sorte, felicidade, ou seja: no fim, tudo o que voce pede a D´us na verdade tem que ser conquistado dia a dia na sua vida normal.

Outro ponto importante é o anonimato, porque se o ato de doação vira uma coisa que pode ser cobrada depois, ou tributada a alguém, ele já não é desinteressado

O mundo nada mais é do que um mercado de trocas, mesmo, de energias, de momentos, de Luz.....

domingo, 3 de maio de 2009

São Jorge

Contava minha mãe que meu bisavô ao emigrar do Líbano para uma terra distante e desconhecida, de onde nunca mais voltou, trouxe consigo um dote em dinheiro e um ícone de São Jorge, junto ao qual rezava várias horas por dia, cristão maronita fervoroso. 
O nome dele era Jorge, tinha a pele morena clara e olhos de um azul claro incomum. Tia Bela me contava de como ele amava cavalos e de como ele a esperava para ir correr o cafezal, levando um canivete para descascar frutas para ela. TODOS que o conheceram o amaram. 
 São Jorge tem um lugar especial na Igreja e no coração das pessoas não religiosas porque sua história é a de defender oprimidos... soldado romano (que historicamente nunca poderia ter usado esta armadura medieval) se recusou a cumprir uma ordem de matar cristãos e foi decapitado por isso. Todos os indefesos e oprimidos ( e quem, mesmo rico e livre, NUNCA se sentiu indefeso e oprimido?) olham para ele como ponte para obter justiça divina, onde só há desesperança. 
Não adianta nada a Igreja jogar o culto de São Jorge para o limbo, porque ele é uma instituição duradoura... Desde o século IV ele é padroeiro e símbolo de resistência de locais como a Inglaterra, da Catalunha, de profissões de risco como policiais e guerreiros, ele é imagem e exemplo para pessoas que teem vidas difíceis, mas ainda assim se sentem na obrigação de fazer diferença, de valorizar a justiça e a honra muitas vezes à custa de sacrifícios pessoais. 
 Eu sempre me senti meio parente dele, por causa do meu bisavô que eu queria tanto ter conhecido, por causa do cavalo, e principalmente por causa da Causa (essa ficou boa). Para falar a verdade até do dragão eu gosto, porque a vida é feita de opostos e nada é completamente bom ou completamente mau, eu acredito firmemente que depois que as luzes se apagam São Jorge e o dragão se sentam à beira do fogo e brincam, como qualquer homem e seu cachorro.  
Bom tambem é ver que ainda tem gente no mundo capaz de dar a própria cabeça a prêmio em nome de uma causa, e gente que combate os próprios dragões até os limites da exaustão e se supera. 
Valei-me São Jorge, porque o mundo é hostil!

sábado, 2 de maio de 2009

guarda costas

calma, gente, não é uma milícia, não são skinheads, não fui assaltada... são minhas luzes, a coisa mais preciosa que eu tenho na vida. Tiraram esta foto para eu pendurar na parede e espantar namorados, como se houvesse muitos disponíveis. Já pensaram como eu fico não atrativa andando com estes 3 atrás de mim? espantam mais que um rottweiller. Neste dia que eles usaram camisetas iguais para tirar a foto devem ter assustado muita gente na rua... Quando ainda moravamos todos em São Paulo eu passava pelo crivo antes de sair de casa, olhavam tudo, se a saia era curta, se a calça era justa, se as cores combinavam... em resumo, quando eu conseguia sair, já era tarde.
O da esquerda é Rafael, 25 anos, músico por vocação e funcionário público por inanição, estudante de Admnistração, namorado da Fernandinha (uma fofa), o meu protetor nas horas difíceis. Fico devendo a foto da Fernanda, ela tambem é filha.
O do meio é Felipe, 21 anos, músico e jornalista por total vocação, fotógrafo talentoso, meu companheiro (não muito convicto) de retiro, o escritor da família que um dia vai tomar o lugar do Pedro Miau na telinha.
O da direita é Victor, o nenê, 18 anos, músico e calouro de Direito, trabalhador dedicado do Fórum de Laranjal Paulista, uma figura cativante, agitada, que me pediu específicamente para falar dos filhos no blog.
Espero poder logo reunir novamente minha família sob o mesmo teto e conviver com a vida loka destes 3... mas saiam do meu pé, pelo amor de Deus, que o mercado já está super difícil sem voces espantarem os pretendentes....!

libélulas

Eu amo libélulas... nem sei dizer desde quando, e ao que parece elas me amam tambem, vivem me seguindo, às vezes até voam na frente do meu carro em movimento como se fossem golfinhos alados procurando a direção a seguir. Até o nome ingles eu gosto, dragonfly, dragões teem tudo a ver comigo. Libélulas.. lembram delizadeza, impermanência, parar no ar por um momento fugaz para lembrar a gente que nenhuma posição é duradoura, a delicadeza das asas rendadas e de brilho nacarado dificilmente pode ser capturada em pinturas, exceto por este artista japonês do seculo 15.

Elas preenchem o conceito de beleza de Shibumi, outra coisa admirável na estética japonesa, onde o simples é o mais belo... se tivessem asas escandalosamente coloridas como as borboletas não seriam Shibumi. Outro dia uma delas me seguiu na minha caminhada diária, e quando abri a porta de casa ela entrou como se fosse dona do lugar, sofri para conduzi-la sem danos para fora, querendo muito dentro de mim que ela ficasse "morando" aqui.

Li por aí que a libélula é o inseto símbolo do Japão, lá elas são chamadas Akitsu e as pessoas fazem laguinhos onde podem para atraí-las, visto que são símbolo de pureza e de sorte. Pureza, porque elas servem como indicadores de locais não poluídos, de águas limpas e potáveis. Uma das ilhas japonesas se chama Akitsu.

Mas o inusitado é que estas criaturas delicadas simbolizam na leveza, a resistencia. As libélulas mudaram muito pouco nos últimos milhões de anos, parece que foram criadas perfeitas e resistiram às mais extremas mudanças climáticas, por trás de aparência tão frágil existe uma força renitente que se impõe. Esta libelula em ambar tem 45 milhoes de anos.... não mudou quase nada.


Curioso, este nosso Criador, que dispensa rascunhos em tarefa tão complicada. Artista mestre.

Os nativos da nação ZUNI norte americana acreditam que as libélulas são presenças de um espírito que protege crianças maltratadas, que as ajuda a recuperar um modo de vida que foi tirado delas, a infancia perdida.  O livro Children of the Dragonfly, de Robert Bensen traz realtos de crianças nativas que foram tiradas das familias e trasferidas para crescer em outra cultura,  e fala tambem  do conceito de adoção nativo americano que é muito amplo e benevolente.

Sempre que acho alguma coisa que tenha design de libélulas me sinto atraída a uma compra desnecessária... Um dia vou fazer uma tatuagem delicada de uma libélula, para preservar de forma indelével esta aliança. Posso não ter a leveza, mas com certeza tenho a resistencia delas.

Adendo de Dezembro de 2011: finalmente criei coragem e fiz minha tatoo de libelula, no ombro esquerdo. Ficou linda, um traço rendado complicado que só o mestre Selva de Campinas podia fazer...


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gatas velhas



Esta é Mia, uma gatinha que entrou em nossas vidas 19 anos atrás, e no momento está mais lúcida do que eu. A forma como ela chegou é inusitada, o rottweiller da clínica, o Hans, achou a filhotinha jogada no quintal e a trouxe DENTRO da sua bocarra até o meu colo... eu dei um pulo e gritei, porque só se via um rabinho cinza saindo da boca dele e eu pensei que era um rato! Ela era tão pequena e tão fraca, ainda assim miou mais de 12 horas seguidas quando a levei para casa, possivelmente sentindo falta da mãe que ainda a amamentava. Ela se integrou logo, e meu filho Victor, que tinha 3 meses de idade brincou com ela sua infancia toda, conforme ele engatinhava pelo chão ela ia pulando sobre ele, brincando e participando das conquistas que ele fazia.
Com o passar da idade, ela se tornou um tanto rabugenta ( ou poderíamos dizer ciumenta), se apegou muito mais ao Felipe do que a qualquer outra pessoa no mundo, mas mesmo ele tomava umas mordidas quando se virava na cama e amassava a pobre gata que vivia enroscada nele.
Hoje ela está meio senil, às vezes acorda de madrugada e fica miando no corredor tentando se lembrar onde é que estava indo, mas ainda tem os dentes perfeitos e funcionando (ai!) e exerce sua rabugice aqui e acolá.

Como outra gata velha da família, espero ao ter a idade proporcional dela ter a mesma disposição, não ter a mesma rabugice e ter a mesma atenção do Felipe, que vai buscar lanchinhos para ela, alisa a cabeça dela até dormir, e divide com ela os trabalhos no computador. Ele não tem nenhuma foto minha nos arquivos dele, mas tem centenas de fotos da Mia. Às vezes me preocupo com o que vai acontecer quando a Mia partir, (a idade dela equivale a uma pessoa de 98 anos!) mas acho que isto faz parte, e vamos ter que encarar a falta dos miados, das mordidas, dos rosnados.... espero que quando EU partir alguem tambem sinta falta dos meus rosnados...