sexta-feira, 23 de julho de 2010
alquimia
Todo o processo da Obra
Filosofal não é mais do que uma dissolução do corpo e solidificação do espírito.”
(J. d’Espagnet, 1730)
Durante séculos a figura de homens encapuzados, trancados em laboratórios secretos onde tentavam produzir a Pedra Filosofal instigou a imaginação dos curiosos. Pouquíssimas evidências de que se pudesse realmente produzir ouro, como acreditavam os curiosos, foram encontradas. Na verdade, hoje se entende que a Alquimia podia ser material ou espiritual, pois os anos de estudo para a realização da Obra completa no laboratório promoviam uma transmutação mística no alquimista, que atingia o ouro da espiritualidade pura. Muitas escolas modernas têm deixado a atividade laboratorial em segundo plano, frisando que a alquimia interior espiritual é o objetivo real, mais importante. Tanto na China, como na Índia, no Oriente Médio e na Europa Medieval existiram esses homens e seus laboratórios, mas no oriente a busca maior era pelo medicamento universal, que traria a imortalidade.
Os próprios alquimistas citavam o deus egípcio Toth, que os gregos chamavam de Hermes (Hermes Trimegisto) como o pai da ciência. Cercada de mitos, a existência de Toth para os gregos e egípcios era tão importante que ele era chamado de pai da escrita, da ciência e da medicina. Por causa do nome Hermes a alquimia também ficou conhecida como arte hermética ou ciência hermética.
Diz-se que da palavra Al-Khemia (Khemi era o nome do Egito antigo na língua nativa, e Al-Khemia significaria “a egípcia”) deriva o nome da Química moderna, e é fácil ver a relação entre os laboratórios dos alquimistas e os laboratórios químicos modernos, com fornos, retortas e tubos.
Vários estudiosos, filósofos, escritores e cientistas de renome estudaram Alquimia, mas pouco se sabe das experiências que teriam realizado devido ao grande segredo em que eram mantidos os experimentos e escritos.
Durante a Idade Média o ponto de encontro dos alquimistas com eventuais mestres e colegas era o caminho místico de peregrinação conhecido como O Caminho de Santiago de Compostela, e eles se identificavam carregando uma concha pendurada no pescoço e um casaco preto.
O laboratório: Athanor vem do árabe al-tannur, que significa forno, um grande forno de areia, para manter o composto em aquecimento constante durante semanas, com pequeno visor de vidro que permite acompanhar mudanças de cor.
O nome A Grande Obra (Opus Magnum) vem da analogia com a criação do mundo por Deus, e ao projeto de redenção que ela contem, comparados à criação de matéria em laboratório e à transformação espiritual que a alquimia proporcionava. Durante séculos a experiência alquímica nunca foi descrita em textos, e a forma de fixar o processo e resultados para que estivessem ao alcance da compreensão apenas dos iniciados eram figuras complexas, desenhos altamente simbólicos que continham toda a informação para quem soubesse interpreta-los. Desta forma, vários tratados alquímicos foram impressos sem uma única palavra, apenas com uma seqüência de ilustrações, ou acompanhados de um texto poético que parecia contar uma epopéia, mas tinha significados para quem conhecesse os nomes código dos elementos: “Se alguém retirar o rei (ouro) do mar vermelho (água mercurial), deve ter cuidado para que não perca a coroa, pois com suas pedras pode-se curar as enfermidades. Em seguida, deve-se mantê-lo num banho de vapor, para que perca a água que engoliu, e depois casa-lo para que gere um filho real ”(M Mayer, em Atalanta Fugiens, 1618).
Mesmo os nomes dos elementos químicos como mercúrio, enxofre e outros, não correspondia aos elementos conhecidos hoje. A maioria deles eram representados por hieróglifos, ou personagens mitológico, como o caso do vitríolo verde, conhecido como “o Rei Duenech”.
O processo alquímico começava a partir de uma misteriosa Matéria Prima, na qual os componentes ainda se encontravam inconciliáveis, e de um conflito violento seriam progressivamente transformados num estado de libertação e harmonia perfeita, chamado de Pedra Filosofal, ou Lápis Philosophorum.
Frase que ilustra o processo: “Primeiro, combinamos, em seguida decompomos, dissolvemos o decomposto, depuramos os divididos, juntamos o purificado e solidificamo-lo. Deste modo, o homem e a mulher transformam-se num só” (Buchleim vom Stein Weisen,1778).
A estrutura da Grande Obra pode ser dividida em 3 planos:
A primeira Obra, na esfera inferior, onde a Prima Matéria é purificada através de varias destilações, e transpõe o portal unificador da putrefação. Na segunda Obra, as três esferas superiores menores, são estabilizadas, e o cisne representa a tintura lunar, ou elixir branco. Na terceira Obra, que começa com um casamento real, é gerada a Fênix, como era chamados a tintura solar ou elixir vermelho.
As matérias da obra seriam: tártaro, enxofre, sal amoniacal, vitríolo, salitre, alume, e por fim o antimônio, um material saturnino considerado a matéria mais venenosa e o medicamento supremo. (Vários casos de acidentes em laboratórios alquímicos com gases venenosos foram relatados). Os nomes código do antimônio eram: “imã dos filósofos”, “lobo dos metais”, “dragão de fogo”, ou “banho do rei”. A compatibilidade destes elementos era transmitida através de figuras como esta:
Os sete tipos de procedimento necessários para atingir a Obra completa seriam: calcinação, solução, separação, conjunção, putrefação, coagulação e por fim a materialização da Pedra Filosofal.
O alquimista, para produzir o Lápis, escolheria entre duas vias: a via seca, mais curta, na qual a separação da matéria ocorre sob calor intenso e constante do exterior (em 27 etapas, chamadas 27 cotovias), e calor interior de um “fogo secreto", e a via úmida, que era mais demorada e necessitava de inúmeras destilações, levando meses até ser completada. Em ambos os casos, o papel principal era de um elemento denominado o “mercúrio filosofal” que não é o elemento químico mercúrio, mas um composto secreto. É dele que se extrai o espírito da matéria, chamado Azoth, que aparece nos desenhos alquímicos representado como uma pomba “… e ele só termina o seu vôo quando o Lápis estiver definitivamente fixado…”
A fase bruta do lápis era representada por um pelicano nas ilustrações simbólicas.
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