quinta-feira, 30 de julho de 2009

gatos



Texto de Artur da Távola

ODE AO GATO

Nada é mais incômodo para a arrogância humana que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias de amor. Só as saudáveis.

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Só aceita relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de traiçoeiro, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

“Falso”, porque não aceita a nossa falsidade e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é esperto. O gato é zen. O gato é Tao. Conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem o ama, mas só depois de muito se certificar. Não pede amor, mas se lhe dá, então o exige.

O gato não pede amor. Nem dele depende. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém, sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa a relação sempre precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Vê além, por dentro e avesso. Relaciona-se com a essência.

Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende ao afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando esboça um gesto de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é muito verdadeiro, impulso que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe; significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).

Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, eles se afastam. Nada dizem, não reclamam. Afastam-se. Quem não os sabe “ler” pensa que “eles não estão ali”, “saíram” ou “sei lá onde o gato se meteu”. Não é isso! É preciso compreender porque o gato não está ali. Presente ou ausente, ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais, vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente ao nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.

Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precisa de promoção ou explicação os assusta. Ingratos os desgostam. Falastrões os entediam. O gato não quer explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda a natureza, aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato.

Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração e yoga. Ensina a dormir com entrega total e diluição no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase quinze minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, ao qual ama e preserva como a um templo.

Lições de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, o escuro e a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gesto e senso de oportunidade. Lição de vida e elegância, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências ou exageros e incontinências.

O gato é um monge portátil sempre à disposição de quem o saiba perceber.


Artur da Távola

terça-feira, 28 de julho de 2009

os "corretos"

Gente, não aguento mais essa Era do "politicamente correto", é a treva revisitada!

As pessoas agora se importam mais com o que os outros irão usar para criticar do que com aquilo que realmente importa de ser dito ou valorizado ....

Acabei de quase ser crucificada num chat porque disse que gostava da música de Wagner... eis algumas pérolas que rolaram: ... mas ele devia ser esquecido porque foi um nazista desgraçado.... alguem com a postura dele não devia mais ser representado... é muito pesado, me faz mal ( este ultimo dito por uma cantora lírica!)....

Pelo amor do TAO, a obra dele é uma coisa, a vida dele outra!
Os gênios não teem mais direito a ser humanos nesta Era politicamente correta?

Já ouvi a mesma coisa numa livraria em Sampa, anos atrás... sobre Céline, um escritor ( que escreveu Viagem ao fim da noite, um livro BAR-BA-RO) e que tambem foi colaborador nazista... é muito fácil as pessoas julgarem agora, a uma distancia pasteurizada no tempo, o que eles viveram naqueles tempos obscuros de convulsão social e pressão... quantos de nós teríamos resistido a colaborar e deixar nossas famlias desprotegidas? Não estou afirmando que esse foi o caso com Céline, que realmente escreveu textos anti semitas, mas WAGNER JA ESTAVA BEM MORTO DURANTE O NAZISMO, o cara está sendo crucificado apenas porque os nacionalistas nazistas usaram a musica de um genio alemão para representa-los!!!!!

Já pensou se durante seculos a obra de Leonardo da Vinci tivesse ido para escanteio porque ele era uma bicha louca e herege ???

Se ninguem lesse Thomas Jefferson porque ele mantinha escravos em sua propriedade e não fazia nenhum esforço pela abolição ?

Ou então vamos fazer o seguinte, queimemos todas as cópias de "Os sertões" por causa de tudo que Euclides da Cunha fez com sua esposa, com Dilermando e o filho deles dois!

ahhh me poupe!

A genialidade em qualquer área deve ser respeitada pelo que ela produz em si mesma, esquecendo o lado humano do gênio, que é sujeito a orgulho, a prenconceitos, a misoginia e a outros tantos defeitos humanos, porque ele é gente.
Se o gênio não fosse gente, de que valeria sua genialidade para a humanidade, como ela seria referencia de algo melhor?

A Inquisição mudou de nome, mudou de livro, agora ela é "politicamente correta"

para o mundo, que eu quero descer!

sábado, 25 de julho de 2009

eclipses e eclipsados



No oriente na data de 22/07 pela manhã (21/7 à noite aqui em Brasilia) ocorreu um eclipse total do Sol que durou longos 6 minutos, uma coisa rara.
Coisas interessantes se relacionam a eclipses:

- passagens na Bíblia e de textos de outras religiões mencionam escurecimento do céu em momentos críticos de batalhas ou provas divinas.

- vários mitos de todos os povos do mundo relatam casos de escureciento do Sol e coisas incríveis que aconteceram em decorrência disso

Qual é a magia, o encantamento que o eclipse tem sobre os povos?
A humanidade cresceu vendo o ciclo dia/noite como a unica referencia segura, inabalavel, dentro de uma vida cheia de desastres, imprevistos e insegurança. Saber que todo dia o Sol estaria lá, trazendo calor, luz e vida, sempre foi a coisa que todos podiam ter como certa.
Mesmo na época mais primitiva, já havia consciencia de que a luz do Sol era responsavel pela produção agrícola e pela manutenção da vida.
O que então, passava pela cabeça deles ao ver o Sol se apagar no meio do dia, coberto por um outro circulo "nefasto" ( que eles não sabiam ser a Lua, porque ela não era visivel até passar na frente do Sol e encobri-lo), como o doador da vida podia ser assim apagado? O mundo podia acabar ali....
A maioria das superstições que decorreu destes eventos diz respeito a tragedias, porque eles não podiam imaginar nada de bom no Sol se apagando.

Na Astrologia antiga os eclipses são vistos como pontos críticos, que teem efeito sobre as pessoas durante 6 meses ( porque astronomicamente a cada 6 meses ocorre um eclipse, só que a maioria deles não é total, nem tão visível).

Porque no mundo de hoje, em que o homem já andou na Lua, fotografou manchas solares, mandou um robo a Marte e eliminou da sua mente todas a crendices e superstições este eclipse teve ainda tanta repercussão? Fontes da mídia internacional já o relacionaram com a queda de um avião, um teste nuclear, e pressagiam negras nuvens sobre a China e a Índia, países que o cone de sombra do eclipse encobriu.
Será que existe em nós uma memória genetica ou mitologica que ainda nos prende aos medos de nossos antepassados?
Nestes noticiarios nninguem mencionou que os eclipses ocorrem regularmente a cada 6 meses, de formas mais discretas, e são por assim dizer comuns.... só faltou falarem em bruxas, sabats e maldições.

Será que para efeito de criar alarde o raciocínio da mídia ainda é eclipsado ou na hora de encher as manchetes vale qualquer coisa?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do Amigo

Caramba, amigo é mesmo coisa que se guarda do lado esquerdo do peito... hoje, no dia do amigo, reencontrei (eu sabia que o orkut devia ter alguma serventia!) minha melhor amiga do final da adolescencia, inicio da vida adulta ( hummm deve ter sido na quarta ou quinta dinastia), a FIFI (Efigenia).

Impressionante como depois de tantos anos de distancia, bastou um segundo para se sentir no ar de novo aquele vinculo de irmandade, de confiança cega, de segurança.

Vai levar muito tempo para colocarmos as coisas em dia, os encontros e desencontros, ganhos e perdas, alegrias e tristezas... mas no fim, vai continuar parecendo que ela sempre esteve ali comigo, só se esqueceu do que aconteceu neste intervalo de tempo.

Os dias de hoje têm coisas magicas, como a internet... um meio onde distancia, e eventualmente o tempo, não existem. Onde a impossibilidade de se encontrar e abraçar fisicamente um amigo são satisfatoriamente substituidos por um encontro e um abraço virtual, sem perder calor nem espontaneidade, até que o encontro real seja possivel.

Existem amigos e amigos... há amigos temporarios, que mesmo que sejam proximos, não passam de uma fase de nossa vida para outra, ou de um ambiente para outro... eu que tenho memoria de minhoca já devo ter me esquecido de varios assim....
.... mas há Amigos, com maiúscula, que mesmo ausentes há 20 anos da sua vida estão presentes no seu coração e basta uma faísca e uma circunstancia favoravel para que voltem a estar presentes no dia a dia novamente. Desses, só quem já teve um sabe como é.

sábado, 18 de julho de 2009

Lei do Equilíbrio



O Universo tem que se manter em equilíbrio constante, e para isso alterna fases de produtividade com inatividade, sorte e azar, ganhos e perdas,e assim por diante, para que o equilíbrio se mantenha.

Antigamente se ouvia uma frase " Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe", mas falta nela o conceito do equilíbrio, da equiparação de forças que mantem o mundo girando sem tropeços, da compensação que existe tanto depois das perdas quanto depois dos ganhos.

Qualquer um que já viveu o bastante para ver que há fases boas e ruins na vida, já percebeu que existe uma tendencia de compensação que atenua os males e minimiza as benesses ao final de um termo de tempo, e assim o que se ganhou e o que se perdeu acabam se equivalendo, e aprende a encarar com cautela as fases boas e com paciencia as fases ruins.

Na verdade isso nos permite encarar os túneis escuros com a certeza de que o Sol vai brilhar mais na outra ponta, uma fé nas Leis Universais mais do que outro tipo de fé religiosa, saber que a maré de sorte muda do mesmo jeito que as estações do ano se seguem.

Para algumas pessoas mais apegadas, encarar as fases de baixa que se seguem a longas fases de alta pode ser muito difícil, um aprendizado duro e desgastante.
Para outros, que surfam de acordo com a maré, a transição é mais facil, a adaptação permite sofrer menos.
Mas o fato é que não se escapa destas alterações, não tem como se viver continuamente numa fase boa e ninguem vai viver continuamente numa fase ruim.

Quando penso nisso é difícil não enxergar o Conde de Montecristo preso durante tantos anos num calabouço por um crime que não cometeu. Não é uma questão de discutir a justiça divina nem a justiça dos homens, porque de ambas não se tem nenhuma garantia, o que se discute aqui é a capacidade de enxergar que mais além desta escuridão vai se abrir uma oportunidade, qualquer que seja o peso que carregamos hoje.

Uma vez li uma coisa que me chocou muito: certos índios sul americanos ( não me lembro de que etnia) na época da colonização morriam quando aprisionados, simplesmente morriam. A razão é que eles não tinham em sua filosofia o conceito de futuro, eles só conheciam em seu raciocínio o passado e o presente, e ao se verem numa cela, apenas viam o que perderam e pensavam que o inferno era definitivo, e simplesmente escolhiam morrer.

É errado se apoiar em noções de vida pós morte e reencarnação para validar sofrimentos nesta vida e esperar recompensas na outra, porque o presente se esvazia, fica sem sentido. Para que trabalhar agora, se esforçar para mudar as coisas e suportar o que for inevitável, se a recompensa virá depois da morte?
Acreditar no fluxo de energia universal que tende sempre ao equilíbrio é viver esta vida de acordo com este universo, com esta perspectiva, com a leis da natureza de que fazemos parte enquanto estamos vivos deste lado.

O outro lado é um outro lado, com suas próprias leis.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

os chatos de hoje

" Este mundo é redondo, mas está ficando cada vez mais chato" Barão de Itararé


Toda época tem seus chatos, o que quer dizer que ser chato é um jeito de ser inerente ao ser humano, qualquer que seja o período da história em que ele vive.
Ele precisa, de todo jeito, mostrar que é diferente de voce, mais antenado, mais estudado, mais lido, mais bonito ou "simplesmente" mais especial.
Acontece que no mundo de hoje os chatos têm ao seu dispor requintes de chatices inimagináveis....

Tem o chato vegetariano (nada contra o vegetarianismo puro de intenções, absolutamente respeitável, que não serve para mim mas tem que ter seu espaço) que vem jantar com o grupo numa churrascaria e fica fazendo hums e ohhhsss cada vez que a picanha passa sangrando.... ah, na mesma churrascaria tem o chato espiritual, que não come carne de porco porque ela é reconhecidamente (?) maldita por todas religiões de respeito.... e quando passa aquela costelinha torradinha fica fazendo amuos e só falta se benzer.

Tem o chato que se senta num café onde se servem blends especiais e quetais, e pede CAFE desCAFEinado, um café que não é café, não tem os efeitos do café, putz grila, toma suco, que laranja não tem cafeína e te deixa zen! (pode crer, zen energia e zen graça)

O Eco Chato, uma criatura já reconhecida e regulamentada pela literatura, que faz questão de lembrar voce o tempo todo que o mundo está se acabando, que a culpa é sua, que tem uma nuvem negra sobre nossas cabeças... (eu sou ecológica, levo minhas sacolas retornáveis para fazer compras, separo lixo, e abro espaço para criaturas viventes e comentes (hehe) até na minha horta.... mas não sou eco chata nem eco escatológica)

Tem o chato antenado.... ele não vê os filmes inteiros, só lê orelhas dos livros lançados na lista da Veja ( nunca entra em livrarias) e ouve somente as chamadas dos noticiários, mas quando sai um assunto ele vira para você e diz... mas COMO você ainda não leu, não assistiu, não viu isso, em que planeta voce vive????

AH, os chatos de bar... cerveja sem álcool, reveillon movido a champagne sem álcool (peraí, ano novo sem poder se anestesiar para não lembrar que no dia seguinte vão continuar existindo todos os velhos problemas.... melhor nem ir na festa!)
Com certeza vai ter na mesma mesa de bar um chato que quer cigarro light sem nicotina... (peraí, se tem folha de fumo, tem nicotina, ponto final)... cara, eu não fumo, mas respeito que decide por vontade própria introduzir 400 substâncias venenosas diariamente no seu próprio organismo, ele tem culhões! Agora é uma questão de coerência, se vai fumar, fume CIGARRO!

Tem o gadget chato.... o cara que TEM que comprar e mostrar todo tipo de engenhoca que for lançado no mercado, mesmo que ele só tenha tempo de aprender as funções básicas até trocar por outro produto..... o celular dele só falta fazer RX, porque já fala e mostra o caminho, o que ele faz questão de te mostrar o tempo todo...

Tem o musichato... se estão tocando pop rock ele só gosta de acústicos, se estão tocando acústicos ele tem saudades so tempo em que as melodias e letras tinham mais originalidade.... nunca ouviu uma ópera inteira, mas quando escuta um trechinho fecha os olhos e faz ohhhhh.

O chato atlético, malhado, sarado, faz 3 tipos diferentes de artes marciais e pode estar o maior frio que vai usar camiseta justa de manga curta para mostrar os biceps.... se bobear ele vai num casamento com ela. Ele fica te lembrando que voce é sedentário, fraco, mole, e passar esse tempo todo lendo só vai te fazer mal, além do que a mulherada não quer saber quem foi Proust, mas quer apalpar um glúteo definido....

A chata perua... "fez" os peitos, o abdomen, "refez" o glúteo e o abdomen, "fez" e "refez" a cara e a lipo.... faz questão de se olhar em cada pedacinho de espelho e te lembrar que musculatura flácida e roupa do ano passado são um passaporte para o esquecimento.... acha um absurdo voce não conhecer AQUELA loja e AQUELE cabelereiro.

Tem uma coisa que é tiro certo para conhecer estes chatos e diferencia-los das pessoas que realmente têm princípios vegetarianos, ecológicos, etc.... basta perguntar porque ele segue essa linha... se a resposta for simplesmente (sem elaborar) " É uma questão de filosofia" ou " uma questão de princípios", siga em frente, vire as costas e viva a vida, porque ele é apenas mais um otário que quer ser diferente e não sabe como.

Cerveja sem álcool, churrascaria sem carne, cigarro sem nicotina, o próximo passo é sexo sem contato... peraí, já tem montes de pessoas que fazem sexo virtual!

para o mundo que eu quero descer!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pai Nosso

Barqueiro Caronte - Ilustração J. Doré

De novo catando na bagunça... achei uma cópia antiga da Divina Comédia, de Dante Aleghieri, toda riscada (porque eu tenho este péssimo hábito de marcar o que leio), prova de que participou muito proximamente de alguma etapa da minha vida.

Quando adentra o Purgatório, o poeta ouve ao longe uma oração lamentosa, dirigida pelas almas do purgatório a Deus. (Canto XI Purgatório)

" Ó Pai Nosso, que estais no céu - não por ser a ele ciscunscrito, mas por dedicar maior amor às primeiras de Vossas criações - por todas as criaturas louvado seja Vosso nome e poder, nas Vossas três pessoas.
Venha a nós a paz do Vosso reino - que aspiramos alcançar, não por nossos méritos, mas por Vossa bondade; como a vontade própria dos anjos se humilha ante o querer Vosso, sob os doces cantos de Hosana, assim se humilham os homens, todos os dias!
Dai-nos o pão cotidiano, sem o qual, neste áspero deserto, retrocede o que julga andar avante.
E à medida que perdoamos a quantos nos fazem mal, perdoa, benigno, os nossos pecados, sem olhar a pequenez de nosso merecimento.
Nossa virtude, que tão facilmente se deixa abater, não a sujeiteis à prova com a tentação do inimigo antigo, mas fortalecei-a contra ele, que a procura vencer.
Esta última prece, Senhor, não a fazemos por nós, que de seus efeitos já não temos necessidade, mas por aqueles que ficaram para trás.

Assim invocando os bons augúrios do Altíssimo, para si e para nós, mortais, avançam, curvadas ao peso de suas culpas aquelas almas penitentes. Cruzavam, ofegantes, o primeiro círculo, expurgando-se das manchas trazidas do mundo terreno. Se por nosso bem elas oram, com amor sincero, que retribuição devem receber dos que ainda ficaram, jurando um bem querer saudoso? Ajudemo-las, com nossas preces, a lavar as impurezas do pecado, para que, tornadas puras e leves, sem jaça que as empane, alcem vôo ao Céu, no camihho das estrelas. "


Quem acredita que a vida na terra é uma fase de uma vida mais ampla e longa deve pensar nisso com carinho... não basta lamentar uma perda, é necessário orar para aquele ser amado encontrar seu caminho e seguir adiante dentro da Luz.
Da mesma forma orar por todos aqueles que ainda estão presos aos seus erros passados, mesmo os que nunca conhecemos, é um ato de caridade.

domingo, 5 de julho de 2009

de Utopia para o Éden


Deixando Utopia de lado, o lugar impossível de existir, procuremos o Paraíso, o lugar que em teoria já existiu, mas de onde nos expulsaram.
O que é Paraíso para cada um, para cada ser vivente? Para os inúmeros sapos que vivem aqui na margem do rio (que já é em si um pequeno paraíso natural), o paraíso é minha garagem, com a luz acesa durante a noite para atrair os insetos de que eles se alimentam e está bem pertinho da casa deles .
Para os idealistas Paraíso é um lugar onde todo mundo é feliz e saudável, onde a paz reina em todos os sentidos.
Para os materialistas, o paraíso está num Land Rover, ou num relógio famoso, ou num castelo.
Para Michael Jackson, o paraíso era Neverland, um lugar onde ele recriou a terra do nunca, onde Peter Pan e os outros meninos nunca seriam obrigados a crescer e ficar chatos.
Existe na literatura da antiguidade, idade média e adiante, um tema recorrente, o paraíso perdido, a Era de Ouro que todos estamos buscando para voltar a viver no Paraíso. Uma visão de cunho melancolico e que não leva a benefício nenhum, um paraíso que se sabe que é inatingível, quase como era impossível de existir a ilha de Utopia, o que acaba deixando todo mundo deprimido.
Eu voto nos PARAÍSOS POSSÍVEIS, com características concretas como era a Terrra do Leite e do Mel que Moisés procurava para levar seu povo, e encontrou.
Uma grande livraria ou biblioteca são para mim um paraíso.
Uma festa com a família reunida é um paraíso que se tem que valorizar, porque não é eterno, as pessoas vão se indo embora...
Um dia de sol, com animais soltos voando e correndo, flores nas árvores e aroma de frutas no ar, é um paraíso tropical de quem ama o lugar onde vive, e a serpente é permitida, porque ela tambem tem direito à vida e faz parte da arquitetura deste paraíso.
Ver um filho crescer, assumir valores próprios e desenvolver seus talentos, é o paraíso dos pais.
Poder fazer o bem, contribuir para aliviar o sofrimento ou aumentar o esclarecimento das pessoas é um paraíso tangível, que está continuamente à disposição de toda pessoa que quiser.
Qualquer paraíso possível de existir, que nos permita conduzir nossa vida para um rumo melhor, ou que dê maior satisfação pessoal é muito mais importante do que uma Era de Ouro distante e vaga, que mesmo que tivesse existido não poderia voltar porque o tempo não pára.
No centro do Jardim do Éden havia uma árvore especial, cujos frutos davam ao homem a consciencia de quem ele era realmente. Uma passagem para a realidade, nem sempre prazeirosa, como as pílulas que NEO tinha que escolher em Matrix. Sendo assim, a serpente nos fez na verdade um favor, permitindo ao homem crescer e se conhecer, para conquistar seus futuros paraísos possíveis
È preciso ter a coragem de escolher paraísos possíveis, e busca-los a cada dia, um pouco de cada vez aproveitando cada minuto da caminhada para se conhecer, se melhorar e merece-los.

sábado, 4 de julho de 2009

formigas e utopia

Hoje assistindo na globo o filme ANTZ, sobre uma formiga filosófica que é diferente das outras e acaba levando o formigueiro a mudar de vida, uma cena me chamou a atenção...
Z, a formiguinha diferente, fugiu do formigueiro para procurar Utopia, um lugar onde haveria comida e segurança.... Bem, quando ele encontrou a SUA utopia, era um parque onde os humanos fazem picnics, e consequentemente largam montes de comida no chão. O paraíso de Z era um monte de pedaços de sanduíches, frutas, e latas de refrigerante espalhados na grama, que para nós seria um lixão.

O termo Utopia foi criado por Thomas More, num livro onde ele falava de uma ilha em que a sociedade era perfeita e a vida era só prazer. Usou o termo utopos do grego, que significa na verdade lugar nenhum. By the way, ele foi um escritor brilhante, teólogo, jurista, filósofo, e morreu decapitado na Torre de Londres porque se recusou a aceitar que Henrique VIII ( que ele praticamente ajudou a criar) fosse o chefe da Igreja por conveniência.
Esse rodeio todo é para elaborar o fato de que cada um de nós tem sua própria Utopia na cabeça, sua própria Terra Perfeita, usando outro termo. Para as formigas, é o local de picnics, pra cada um de nós é um lugar onde achamos que haverá mais abundância, mais paz, mais pessoas queridas que não nos trazem problemas e sempre concordam conosco. O imigrante quer voltar para casa e lembra somente das coisas boas que haviam lá. Os que estão lá sonham em vir para cá. Os brasileiros sonham em ir para o exterior. Os que já estão lá sonham em voltar. Em resumo, o ser humano está sempre insatisfeito com o lugar onde está agora, e a grama do lugar da imaginação dele é sempre mais verde, perene.
Os que vão se aposentar sonham com uma casa na praia, e quando estão lá acham que dá trabalho demais, e fica longe de " tudo".
More realmente acreditava que era um modelo de sociedade possível de ser criado, na ilha de Utopia não existe propriedade particular, o interesse privado só é aceito se for de interesse da maioria, existe um deus parecido com o nosso, existe uma casta de párias, que fazem trabalhos escravos até que paguem pelos seus crimes e então voltam a ser cidadãos de direito. Bom, tirando a presença de um deus, parece que a revolução russa já tentou isso, e esbarrou no fato de que a humanidade é composta de seres humanos, que ao que tudo indica não conseguem viver em estado de permanente felicidade se não tiverem como mostrar que são melhores que os outros em alguma coisa, principalmente pelo que possuem.
O filme, se tivesse mais uma hora de duração, acabaria mostrando que algumas formigas se apossaram do local de restos de comida e começaram a cobrar entradas e a revender os produtos com lucro de 300%, outras formigas começaram a vender um serviço de proteção para as formigas comerciantes, e as formigas comuns quase não iam até lá, porque o salário delas não dava para comer fora.
Porque formiga de filme também é gente.