As aves de rapina sempre foram respeitadas entre os homens, desde o Egito antigo onde o falcão Horus com sua visão poderosa representava o poder do deus que tudo vê, até os livros de falcoaria da Idade Media que se assemelham a tratados filosoficos pela propria natureza das aves estudadas.
Elas são pouco numerosas se comparadas a outras espécies, vivem em geral de modo solitario e isolado em lugares inacessiveis, e teem caracteristicas fisicas incomuns que as capacitam a fazer proezas lendarias como mergulhos a 180km/hora que parariam o coração de qualquer outro ser vivo, enxergar com precisão de 2km de altura, e liberdade, meu Deus, a liberdade de poder voar assim tão alto e tão longe, poder ir para lugares onde ninguem chega e ficar lá observando o mundo girar.
Um ás da Primeira Guerra mundial tinha uma águia pintada em seu aeroplano onde se lia Je Vois Tout (cara, voar sem paraquedas num troço feito de madeira e lona com um motorzinho de mobilete é coisa de ÁS, depois disso ninguem mais devia aspirar ao titulo).
É claro que sua capacidade de predadores eficientissimos e implacaveis tambem fez com que fossem mencionados como exemplos de ladrões, assassinos, impiedosos, esquisitos. Porque os homens teem a natureza de se enxergar em todo o resto do mundo, não importa para onde olhem estão sempre vendo somente a si mesmos. (acho que se chama Filosofia, isso)
Esta dualidade intrinseca aos seres vivos, que tanto pode fazer deles maravilhas quanto demonios, intriga e deslumbra mais aos homens porque serve de alerta sobre sua propria natureza.
A natureza é essencialmente dual e polarizada, nenhum ser vivo é totalmente bom ou mal, e nenhum deles é descartável dentro do contexto complexo do inter-relacionamento ecológico. Mesmo as cobras venenosas têm sua serventia e importancia no habitat. Até as aguas vivas e os leitores de Caras.
A ambição que faz um homem voar mais alto e ver de cima as coisas e ter o poder de rapinar para sobreviver, tambem faz com que possa se tornar um assassino implacavel de sonhos e esperanças de outras pessoas.
Alguns nascem com uma capacidade de visão mais acurada, de percepção da inteção do movimento antes que ele mesmo aconteça... e principalmente, a capacidade de ver a imagem ampla, the big picture, outros nascem com capacidades físicas semelhantes ao coração da águia mergulhadora.
Se eles vão usar isso para rapinar, é uma escolha. É na escolha que está a maravilha das aves de rapina, porque apesar de ter todas as capacidades imagináveis, elas só matam o suficiente para sobreviver, e uma vez seguras e alimentadas só ficam ali, observando o mundo girar.
Esta é a grande mística que eles exercem sobre os homens: a imagem da serenidade de uma criatura que tem tanto poder mas sabe como e quando usa-lo, só na medida necessária.
Je vois tout, mas o que sei guardo para mim. A grande águia, alimentada, pousada, apenas observando, e exercendo aquela aura de poder contido, de perfeição.
Há uma frase num livro de Anne Rice, Entrevista com o Vampiro, que define a escolha de uma criatura de rapina:
" People who ceased to believe in God or goodness althogheter still believe in the devil. I dont know why...
No, indeed I know why. Evil is always possible. And goodness is eternally difficult."
(Pessoas que desistiram de acreditar em Deus ou na bondade de uma vez continuam acreditando no demonio. Eu não sei porque. Não, na verdade eu sei porque. O mal é sempre possivel. O bem é eternamente difícil."
Há lugares que concentram estas aves, lugares de poder.
Mas é sempre bom lembrar que todos eles nasceram fracos e implumes de um ovo, e passam anualmente por uma troca de penas que os prende vulneraveis ao chão, e à opinião pública.
Viver dentro da natureza é como viver em sociedade, é preciso entender que todos têem 2 lados, e todos têem um papel a cumprir, mesmo que seja apenas encher o saco de todo mundo em volta, ou voar e ficar olhando as coisas de uma distancia segura.
Mas que tem hora que dá vontade de ter uma boa espingarda, isso dá.
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