segunda-feira, 21 de março de 2011
comer, rezar, amar I
COMER
"Deus nunca bate uma porta na sua cara sem abrir uma caixa de biscoitos"...
Frases como esta, no livro de Elizabeth Gilbert - Comer, rezar, amar dão a tonica da leitura... seria impossivel um roteirista conseguir incluir todas as pequenas perolas que ela joga descuidadamente pelo caminho em 2 horas de filme. Enfim, adaptar um livro em um roteiro com certeza é a arte de superficializar, mas o universo das imagens coroa a criação do autor e passa a ser a referencia na imaginação de quem lê.
Resumindo mais que o roteirista, uma escritora de 35 anos de N York passa por um divorcio daqueles em que voce entra no tanque com o tubarão e sai só com a roupa do corpo rasgada mas feliz por estar viva, (minha vida estava reduzida a pedaços e eu estava tão irreconhecivel que eu mesma não teria me identificado num recohecimento policial), depois arruma um namorado 10 anos mais novo que é espiritualizado, num relacionamento tipo liga-desliga, ( "David era catnip e kriptonita para mim." ) e finalmente decide se dar um ano sabatico, passando 4 meses na Italia, 4 meses na India e 4 meses na Indonesia.
(assista o filme)
O livro é tão rico em insights que eu preferi explorar em topicos, e vou deixar toda a coisa da separação para depois, porque talvez seja a grande essencia do livro, saber que se voce não é inteiro e não está construido solidamente não poderá sustentar nenhum tipo de relacionamento.
"Eu queria explorar a arte do prazer na Italia, a arte da devoção na India e a arte de equilibrar as duas coisas na Indonesia. Depois percebi que a letra inicial dos nomes dos 3 países era I (eu em ingles), uma coisa muito auspiciosa em se tratando de uma viagem de autodescoberta."
A parte do comer na Italia tem uma implicação muito mais profunda do que parece... não é só comer sem culpa num mundo onde reinam as mulheres que mostram todas as costelas, é se abandonar sem restrições ao prazer que a vida pode dar, sentar no banco de uma praça para tomar sorvete enquanto o sol acaricia o rosto, ler o jornal numa mesa de café enquanto se informa sobre o humor do papa naquele dia.
Ela cita leis do manual de ser italiano: bel far niente, l´arte d´arrangiarsi, dar o contexto do que se fala com as mãos.... diz que o único museu que visitou em 4 meses foi o Museu da Pasta e pega um trem até Napoles para comer a melhor pizza do mundo.
O filme não mostra as experiencias da Sicilia, de Firenze, e principalmente de Veneza...
A festa do comer toma parte no aprendizado, congregar amigos e familia em torno de uma mesa, rir, brigar, chorar, xingar, e comer muito, comer em todos os sentidos, o comer visual, onde a arte, historia e fontes de Roma são ingredientes e personagens.
Claro que é preciso comprar roupas, a magreza esqueletica não sobrevive na Italia, nem a culpa, graças a Deus.
Estudando italiano ela apreende conceitos de vida, e de historia, que afinal é o que sustenta o mundo. (a lingua italiana foi escolhida, em um certo momento, porque as cidades estado falavam cada uma uma lingua diferente e a unidade era impossivel, então escolheram o italiano de Dante Aleghieri como a lingua italiana principal). Ela escolhe sua palavra favorita em italiano: Attraversiamo, em ingles let´s cross over, em portugues vamos atravessar ( a rua, ou um espaço), pulemos os obstaculos, passemos para outro nivel, deixemos o problema para trás...
No filme o esporte de conhecer, observar e escolher as fontes favoritas em Roma não existe, e esta é a fonte preferida dela: fonte Gaia ou fontana dei satiri ( "Dal centro della mia vitta vene una grande fontana"... parece que a poetisa Louise Gluck escreveu primeiro em italiano)
O comer envolve muito mais do que ingerir carbohidratos, o comer envolve a beleza dos cenarios e a beleza dos homens italianos ( "... para o meu gosto, os homens de Roma são ridicula, dolorosa e estupidamente belos. Às vezes eles são tão belos que dá vontade de aplaudir ."), a forma correta de redigir um texto ("fale como se come", isto é, com ingredientes simples, puros e da forma mais rapida e facil).
Mas o grande lance do livro que falta no filme nesta primeira parte é a petição a Deus. Falarei disto no proximo post.
Ah, a foto do post é a minha fonte preferida de Roma (embora eu conheça poucas) é uma fonte secundaria na Piazza Navona, onde fica a magnifica fonte dos 4 rios, celebrada em todos os idiomas... a "minha" é a fonte de Netuno, ele está lá poderoso, com seu tridente, cercado de cavalos marinhos que são cavalos mesmo, e de anjinhos, um tritão e uma nereida. Eu gosto dela, alem do fato de Netuno ser o meu patrono, porque são criaturas da água, saindo da água com movimentos tão reais que voce fica esperando o cavalo se sacudir no lado de fora.... e assim a água passou a ser personagem do conjunto. A fontana de Trevi fica fora do pareo, não dá pra chamar de "fonte", é um verdadeiro palacio aquatico.
... e não posso me esquecer que uma vez em Roma já parei para ver (ou seria aplaudir) um homem ridicula, dolorosa e estupidamente belo descer de uma lambretta e subir as looongas escadarias de uma igreja... ele usava colarinho de padre...
sai, capeta!
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