segunda-feira, 7 de março de 2011

o farol

Sempre tive um tipo de fixação na imagem de um farol marítimo.
Há várias coisas especiais sobre ela, o fato de ser uma luz no fim do tunel (ou do sufoco), o fato de ser a própria imagem do isolamento (não existe melhor retiro do que ser um faroleiro... ainda estou tentando este emprego), a instância de estar num dos muitos thresholds (limiar, limite entre dois mundos diferentes) deste mundo, e o fato de estar cercado de mar e das forças que operam no mar. Antes da enchente eu colecionava calendarios de parede com fotos de faróis do mundo... 

A luz que salva é uma figura metafórica poderosa, mas é ainda mais poderosa no seu sentido literal... quem estiver numa tempestade com certeza vai pensar que aquela luz foi enviada por Deus.  (É interessante como o homem sempre pensa que Deus está à sua inteira disposição mesmo para os menores problemas... eu tenho certeza de que ele tem muito mais o que fazer, coisas muito mais importantes...   um general romano disse : "não adianta pedir aos deuses pela vitoria, são os soldados que lutam as batalhas em meio ao cheiro de sangue, amigos e inimigos mortos, uivos e dor. Deus não vai sujar os pés.")

As metáforas sempre têm duas raízes, uma dentro e uma fora de nós. 
No caso do farol, ser salvo e ser o salvador.  Estar firmemente plantado, ver as coisas de uma perspectiva superior e emitir alguma luz sobre as tormentas alheias. Mas em geral todo salvador precisa urgentemente ser salvo, principalmente de si mesmo, senão dos enroscos em que se mete, porque salvar pessoas é com certeza o trabalho mais perigoso que existe.

O isolamento do farol, estar no limiar entre dois mundos, é o que quase todos fazemos hoje em dia.... o mundo ficou tão complicado e apressado que cada um precisa se esforçar e reservar algum tempo para ser apenas si mesmo, para poder alimentar e desenvolver seu espírito e evolução pessoal. De uma certa forma, a sensação de estar se equilibrando entre o "mundo real" e o nosso mundo interior é familiar a todos no seculo XXI, e a causa provavel da dificuldade de se manter relacionamentos profundos e estáveis, porque ninguem pode dar o que não tem, e quase ninguem tem tempo para entender e conhecer a si mesmo.
O mundo sólido e o mundo liquido representam o real e o abstrato, mas existe outro limiar em que os faróis maritimos reinam: o limiar entre a escuridão e seus perigos e a luz e a segurança.
Esta é a grande magia que o farol opera, ele resgata e  promove redenção.
Quantas vezes estamos imersos na escuridão de um problema, uma depressão, uma doença ou um vicio, à deriva num barquinho balançando, nos sentido levados e escravizados por forças que não compreendemos... e nos resta apenas esperar ver uma pequena luz à distancia,  uma promessa, esperança?
O purgatorio é aqui, talvez Dante possa explicar... "quem vos guiou alumiando os passos, para a profunda noite haver deixado?".. "uma luz (rogo a Deus que a veja novamente) tão veloz pelo mar vi deslizando"...

O farol, como o homem, está numa posição ambigua...  ele se firma ali, sólido, orgulhoso, de pé com um propósito, e resiste às intemperies de uma força inimaginavel e impresivivel como o mar, como a vida, como o futuro.
Mas esta mesma posição é uma lição de humildade, porque no fim de tudo, ele está diante de uma coisa muito maior do que ele jamais vai poder entender nem dominar, ele está ali, sozinho e nú, diante da força da criação da vida e da morte, e não há como a solidão ser mais completa ou mais profunda.



Para quem está ficando tonto com as mudanças de visual frequentes do blog, adicionei láaaa embaixo, depois da coluna de postagens, todos os cabeçalhos recentes...

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