domingo, 23 de agosto de 2009
confiança
Esse aí é o Tigrão (cujos novos pais batizaram de Chico).
Ele e a mãe, a Cicinha, "apareceram" dormindo encolhidos no meu quintal, num fim de semana.Estavam famintos, com frio, com medo de gente, e ainda assim, sem me conhecer me "adotaram", sorriram pra mim, CONFIARAM em mim, a Cicinha virou a barriga para cima para receber agrados, numa mostra de total vulnerabilidade.
Confiança é um elo esquisito.
Ela é total doação, vem do fundo da alma sem freios, sem medidas, mas é sujeita a recepção parcial e até mesmo a total decepção.
Os animais que já foram traídos por homens nunca se recuperam, ficam para sempre arredios, alertas, desconfortáveis.
Os homens que já foram traídos por homens às vezes se recuperam, e alguns têem até a capacidade de perdoar.Talvez esta seja uma diferença entre nós e os animais.
Exercemos a confiança todos os dias, em graus variados, muitas vezes sem perceber. Confiamos no médico que nos atende, no professor que nos ensina, nos profissionais que contratamos, nas pessoas que nos vendem alimentos... mas nenhuma confiança é tão crítica quanto a que depositamos nas pessoas que nos tocam o coração, sejam parentes, amigos ou amantes.
Tem montes de gente ferida andando por aí, traída por gente ou pelo destino injusto, faltando um pedaço, que se esconde lambendo uma ferida numa caverna escura, usando uma armadura para se proteger de outros golpes, se sentindo tão frágil e amendrotado que prefere se apegar a pequenas rotinas e pequenas certezas para poder continuar vivendo.
O nome do remédio para elas é a outra coisa que nos diferencia dos animais: Esperança. A Confiança e a Esperança são irmãs.
Quanto mais a gente viveu, mais teve contato com a Esperança, mais certeza tem de que a roda gira, o alto segue ao baixo num círculo infinito... mas ainda assim, às vezes o golpe é tão grande que só a Esperança nao cura a ferida...
Então entra em cena o outro remédio que nos diferencia dos animais: a Fé.
Não precisa ser religiosidade, beatitude, subserviência a um culto. Apenas Fé.
Fé de saber dentro do coração que houve uma força maior que criou a natureza, cheia de exemplos de vida, morte e renascimento. Se o homem é parte da natureza, ele tem Fé, ele vive, morre e renasce todos os dias porque ele é parte integrante do plano mestre.
Certas pessoas, como Orfeu, tiveram a coragem de mergulhar no inferno para resgatar a outra metade da sua alma que se perdeu, tiveram a coragem de enfrentar a CAUSA de seu desespero.
Outros, como Romeu, preferiram entregar a sua metade que ficou ao mesmo destino que levou a outra metade, o EFEITO da tragédia foi tanto que foi mais forte.
Existe sempre uma escolha, sobreviver ou desistir.
Sobreviver significa recuperar a Confiança, exercer a Esperança.
Fazer esta sobrevivencia valer a pena e ser produtiva significa recuperar a Fé.
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