segunda-feira, 31 de agosto de 2009

herança genética II

Esta aí de esquerda é minha avó Maria, em 1903, com a mesma idade que eu tinha, à direita, em 1963.
Engraçado ter duas imagens que congelaram um mesmo momento, na vida de duas meninas de mundos tão diferentes. Eu tinha apenas 8 anos quando a vó Maria morreu, não posso dizer que a conheci realmente. O que a esperava em seu futuro com certeza é completamente diferente do que me esperava no meu...

Vendo a novela do Caminho das Índias, onde mostram como os indianos respeitam os mais velhos, a gente se põe a pensar como é difícil para eles hoje a velocidade de mudanças do mundo.
Provavelmente as maiores mudanças que minha avó conheceu foram os aviões, o rádio e a televisão, mas como a segunda geração, minha mãe, estaria vivendo hoje, como estaria se sentindo hoje?
Tenho o maior orgulho dos meus tios Carola e Wilson, da geração de minha mãe, porque estes corajosos setentões enfrentaram o dragão da tecnologia, e hoje usam regularmente a internet no seu dia a dia.... na casa da tia Carola, se sai um bolo novo, não era receita da vovó, foi um download de algum site de culinária. Nas tardes da tia Carola, não tem crochezinho nem revista de fofoca... ela joga paciencias complicadíssimas no computador, e faz buscas no google de lugares que gostou ou gostaria de conhecer. As fotos de viagens passadas, o tio Wilson passa pelo scanner ( que eu não sei usar!) e depois remete para a família e os amigos. Estamos aguardando ansiosos o momento em que ele vai se apaixonar por uma câmera digital.

Existem os idosos que se recusam a mudar com o mundo, e hoje estão tendo que conviver com o analfabetismo digital, alguns por falta de estímulo, outros por desinteresse mesmo, e mesmo os aspectos sociais deste mundo novo lhes são incômodos ou indiferentes e se sentam rabugentos, reclamando que o mundo deveria vir a eles e funcionar do jeito que eles preferem, ficando mais isolados dos filhos e netos distantes.

Resta saber que tipo de velhinha eu vou ser... estou em cima do muro, do mesmo jeito que tem dia que eu digo "Pára o mundo que eu quero descer!", tem outros dias em que eu quero ver tudo que é novo... ao mesmo tempo que escrevo o blog familiar, não confio no meio virtual para preservar arquivos, memórias, escritos. Ainda me sinto mais segura lendo um livro impresso do que um e-book. Mas AMO o msn messenger para falar com meus filhos, ao contrário do regular serviço dos Correios... A-DO-RO fazer downloads.... livros que teria que viajar para comprar, e que talvez só encontrasse em sebos ou museus estão à minha disposição em segundos.
Mas a tecnologia não faz bem à arte.... as imagens pasteurizadas e as músicas disseminadas sem royalties não têm o mesmo impacto em nossas vidas que admirar um Van Gogh ou ouvir Eudóxia de Barros ao vivo.

O mundo da tecnologia tem um efeito estranho, porque nos aproxima de pessoas que nunca teríamos conhecido na vida, mas ao mesmo tempo nos distancia, nos mantem numa tela fria.
É mais ou menos como o "voce pode ver, mas não pode pegar" de uma vitrine, uma amizade que é real na medida em que se divide pensamentos , alegrias e tristezas, mas é ilusão na medida em que não se olha nos olhos, não se abraça, não se caminha junto numa tarde chuvosa. Fica faltando o calor humano.

A benção da internet permite encontrar velhos amigos e retomar o contato diário com eles, mas esta facilidade de contato virtual tambem nos desestimula a viajar e buscar abraça-los de verdade, como se apenas saber notícias das pessoas fosse suficiente, deixasse de ser necessário partilhar a vida com eles.


Ainda não falei das diferenças de trajes entre as duas... os cachinhos de vovó, feitos a ferro quente todos os dias, as botinhas apertadas que deviam dificultar as brincadeiras.... a boneca de louça... exatamente iguais aos que a avó dela usou.
Meus sapatos já tinham sola de borracha seguras, a meia de poliester de tear industrial, minha boneca era de plástico, e eu não usava ceroulas com certeza. Mas as franjinhas são identicas. Os narizes tambem.
Olhando para trás, em termos de história, é difícil acreditar que apenas 60 anos nos separam.

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