quarta-feira, 26 de agosto de 2009

giramundo






Os Giramundos agora teem página propria e podem ser adquiridos em
www.estrelagira.blogspot.com


A primeira estrela que vi foi em São Luiz do Paraitinga, SP, um dos últimos baluartes da cultura e folclore brasileiros. Nós (eu e a Ana Maria) a desmontamos para ver como era feita, e depois pesquisamos materiais e técnicas de montagem, e durante este período aconteceu o inesperado: pessoas oriundas de todo o Brasil que passavam por nossa loja reconheciam as estrelas como lembranças de avós e bisavós, mas os nomes que lhes davam eram diferentes conforme a região.
Uma peça de artesanato produzida em todo o Brasil durante pelo menos 250 anos, tecendo estórias e histórias de famílias. O mais legal é que elas viam as estrelas com um brilho de felicidade, de saudade nos olhos... começamos a recuperar a tecnica, a reproduzir a montagem de varios locais do Brasil, e pretendemos divulgar isso para resgatar este artesanato antigo da época do Imperio. Descobrimos tambem que as moças do Imperio, com a mesma tecnica, faziam caixinhas e porta joias.
Eis os nomes que até agora coletamos, a algumas das estórias relacionadas às estrelas:
Flor de Mandacaru: é assim chamada no Nordeste, onde eles fazem estrelas menores dentro das outras, reproduzindo a geometria da flor do cacto do agreste. Nos contaram que enfeitam varandas das casas e barracas em festas regionais.
Giramundo: é o nome mais conhecido, no Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, têem um pingente que pode ter várias formas e ficam girando ao sabor do vento, de acordo com uma de nossas fontes mostrando às pessoas as várias faces que a vida tem, e que nenhuma delas é permanente. A lenda diz que ela "chama " a sorte ao girar, porisso é pendurada nos batentes de portas, janelas e em varandas.
Carambola: nome dado no interior do Paraná, devido à semelhança da flor com a geometria de uma fatia transversal da fruta.
Estrela, Segredo, Cofrinho: nomes conhecidos no estado de São Paulo, devido ao costume da época imperial em que as mães presenteavam a filha que se casava com uma estrela e punham dentro dela algum dinheiro para emergências. Nos relataram que ao redor de 1940-1950 se ensinava nas escolas as meninas a fazer estrelas nas aulas de artes em escolas do interior paulista.
Estrela da Felicidade: nome dado no sul do Brasil e nos pampas em geral, onde a influência da cultura ibérica embutiu um costume místico na feitura das estrelas, que se chama de “costurar” orações de proteção ou na intenção de cura, tornando a estrela um amuleto pessoal, lá as estrelas eram feitas por curandeiras.
Espinheiro, agulheiro: nomes dado em Goiás e Mato Grosso, onde as fazem com losangos bem pontudos e estreitos.
Pindaíva ou pindaíba: nome da região do pantanal, Goiás, Mato Grosso. É uma fruta vermelha, cheia de pontas, que dá em arvores de mata densa no Brasil central... quando os caboclos não teem mais nada para comer entram na mata para catar pindaívas ( daí surgiu a expressão "está na pindaíba" = não tem nenhum outro recurso)
Uma variante da estória é de que na época do Império as mães presenteavam as filhas com estrelas veio das fazendas da região serrana do Rio de Janeiro e é particularmente singela: durante toda a vida da moça a mãe guardava pedacinhos do tecido usado para confeccionar as roupas dela, lembranças do dia de batismo, aniversários e outras datas, e quando a moça se casava a mãe lhe entregava partes da sua história na forma de uma estrela, que ela iria levar para a casa onde ia começar sua nova história como futura mãe.
As estrelas são feitas com papel paraná, 60 losangos revestidos de tecido individualmente e depois costurados uns aos outros, formando 12 flores de formato pentagonal, num trabalho total de cerca de 6 horas por estrela para quem já tem bastante prática.
Pitágoras, em sua geometria sagrada, já considerava o dodecaedro uma forma mística, relacionada à cura e aos poderes misteriosos.
Quem gosta de fazer arte com as mãos sabe que existe um prazer em dar forma à beleza... mas no caso das estrelas é uma coisa intensa, porque a cada corte diferente no tecido elas ganham nova vida, nova forma. É como solidificar sonhos, por ordem na criatividade, organizar a beleza.


Giramundo, e o mundo gira... e a cada volta, se vê outra cor, outra flor, outra vida.

4 comentários:

  1. Adorei esse cofrinho. Aqui no meu estado alguns chamam de cofrinho mesmo. Minha mãe de 73 anos é quem faz. Tem pelo menos uns doze prontos. Faz por prazer de mostrar aos outros, uma arte meio esquecida, e também presentear.
    Valeu mesmo!!!!!!!

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  2. Lindo, quando eu era criança, fazia muito o giramundo, com sobras de retalho,pois minha maeera costureira. Tbm fazia florzinhas no galho de fumo bravo, hj vendida aqui em Cataguases como flor de Santa Rita,saolindas.Como faço pra mandar uma foto das florzinhas para conhecerem ?

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  3. Oi Fatima pode mandar para paulafcg@hotmail.com
    Obrigada

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  4. Espero que você não se importe se eu pegar as ricas informações e divulgar estas histórias no meu blog... É claro que irei citar a fonte!
    Lindo trabalho!

    Abraços, Iris Barbas

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