Waterhouse: Miranda and the tempest
Inspirado na trama de A Tempestade, de William Shakespeare, uma jovem presa em uma ilha desconhecida desde a infancia assiste a um naufrágio provocado por forças mágicas em forma de tempestade, que acaba trazendo à sua ilha as pessoas que a levaram com seu pai ao exílio.
É engraçado como as obras de grandes mestres falam por si, sem enredo, e sem necessidade de vínculos racionais com o publico.
Para cada apreciador, um tipo de pintura ou de tema tem maior apelo, como se estivéssemos em sintonia com os pensamentos e emoções do artista. Tem gente que adora natureza morta, outros preferem paisagens, e assim todos os estilos de pintura encontram seu veio de admiradores.
O que faz com que eles, tanto Waterhouse o pintor, quanto Shakespeare o escritor, tenham essa capacidade de nos alcançar séculos depois? A natureza humana não mudou em nada?
A ingenuidade de Miranda e o desejo de vingança de seu pai continuam vivos em nossas vidas?
Do mesmo jeito , o mar se dobra em tempestades desde o princípio dos tempos... levando consigo marinheiros audazes e naus que retratam a fragilidade do mundo humano frente às intempéries. Do mesmo jeito, aquelas paredes rochosas escoram há milhares de anos a violência das forças de Netuno, pondo limites ao reino do mar.
Mas aquele momento, aqueles poucos minutos em que o vento levou o cabelo vermelho de Miranda, o aroma do mar revolto entrou no nariz dela e ela se desesperou ao ver o navio se quebrar e afundar, aquele minuto, ficou preservado para a eternidade na visão de um mestre que foi tocado pela sensibilidade do enredo de outro mestre.
Se essa moça de cabelo vermelho era um modelo vivo, ou uma ideia na cabeça de Waterhouse, não importa mais, porque ela se tornou a encarnação da própria Miranda, talvez exatamente como o próprio Shakespeare a concebeu séculos antes.
E séculos depois, ela sou eu, é você, somos todos a moça de cabelos vermelhos assitindo ao navio se partir com a tempestade, vendo a maré da vida trazer de volta à nossa porta pessoas e problemas do passado para que se quebrem ou se salvem em nossa praia já cheia de destroços.
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