domingo, 4 de outubro de 2009

saudade





Engraçado, tem dia que eu acordo, sem razão lógica, com uma saudade enorme do mar, do barulho, do cheiro, do vento, de uma convivência diária com as mudanças de humor dele, e morrendo de inveja desta ovelha escocesa que pasta nas praias rochosas da Nortúmbria ( com este casaquinho legal ela pode ficar lá numa boa...)

Ora, direis, mas como se moras a menos de 40 km dele?
Ora, respondo... sou uma eremita (hellooooo a palavra retiro diz alguma coisa?), raramente saio de casa... e esta não é uma saudade lógica, mesmo, posso ir até lá que vou continuar com este buraco no peito, onde falta alguma coisa.

Estes dias no blog de um amigo ele discutia a saudade... o que é saudade...
As pessoas são tão diferentes umas das outras, que mesmo que se convencione uma definição da palavra saudade, com certeza não será sempre o mesmo sentimento que ela define. Até mesmo duas pessoas que partilharam uma mesma coisa terão saudades diferentes daquilo.

Às vezes a gente confunde saudade com nostalgia, ou será que são a mesma coisa?
A saudade é tão complicada, que muitas línguas não têm uma única palavra para defini-la, e algumas na verdade não têm nenhuma palavra para ela. Ela simplesmente existe. Aumenta e diminue ao seu próprio ritmo, tem vida e identidade próprias. E fica ali. Escondida, matreira, pronta para "aparecer" a qualquer momento.

O deus do Mar, Netuno / Poseidon não era do tipo tranquilo e facil de lidar, da mesma forma que o mar não é tranquilo, muda de cara e de humor a cada hora e mesmo nas horas de tranquilidade encerra perigos escondidos.
Neste aspecto, o mar e a saudade são iguais.... mesmo quando parece que ela está tranquila, há perigos escondidos nela.

O mar é lembrança genética mais antiga que temos, ele está em nosso corpo, em nossas veias, porque a água que existe no corpo das criaturas do reino animal é água salgada, como o mar de onde todas elas se originaram. Equivale a dizer que para poder viver fora do mar, elas tiveram que ir evoluindo um casulo (corpo) que contivesse a água do mar e pudesse andar por aí.

Resumindo, parece que o mar de uma certa forma desperta saudades diversas nas pessoas, mesmo nas normais, e que o próprio mar é um retrato do que é a saudade: grande, às vezes silenciosa, às vezes chorosa, contendo marés de ação e reação que de vez em quando voltam a bater na nossa praia, mistérios profundos e surpresas, mas de uma beleza incrível e misteriosa que está em nossas veias, para sempre.

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2 comentários:

  1. Gostei dessa sua saudade transcendental. Como vou continuar revendo o assunto (saudade) no blog, vou usar um pouco disso e do seu comentário lá, que está rico. Sobre a sua citação do mar, lembrei de Pessoa (meio óbvio, né?)
    MAR PORTUGUÊS

    Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lágrimas de Portugal!
    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
    Quantos filhos em vão rezaram!

    Quantas noivas ficaram por casar
    Para que fosses nosso, ó mar!
    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.

    Quem quere passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu.

    Fernando Pessoa

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  2. acho que ESTA é a frase:
    "Quem quiser passar além do Bojador, tem que passar além da dor."

    É isso que é saudade, é você ter passado além da dor, mas não sem antes ela ter deixado marcas, que como fraturas antigas, de vez em quando doem conforme muda o clima e quando a gente fica muito tempo perto do mar.

    *smile*

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