terça-feira, 23 de junho de 2009

motocicleta Zen

Às vezes reencontro cadernos antigos de anotações, em meio ao eterno acampamento que minha casa se tornou, como não é um lar definitivo, muitas coisas não foram desencaixotadas, e ao vistoria-las em busca de alguma coisa acabo descobrindo tesouros.
Estas anotações são de um livro alemão chamado "Zen e a arte de reparar uma motocicleta", de Robert Pirsig, que não tive o prazer de ler inteiro pois ainda não consegui uma cópia em inglês. ( a língua alemã e eu, depois de 2 semestres de combate, houvemos por bem aceitar que não fomos feitas uma para a outra, e como o pouco aprendido era suficiente para viajar, entreguei os pontos).

"Quando voce se dedica pela primeira vez a um trabalho maior, por certo há de temer o contratempo da sua elaboração na sequência invertida. Isso ocorre, em geral, no momento em que voce acha que estava a ponto de terminar a tarefa. Depois de dias de trabalho, terá que recomeçar tudo de novo.. mas de onde surgiu isso? Uma caixa de bielas???? Como pude me esquecer dela? Oh meu Deus, agora vou precisar desmontar tudo? Voce até parece estar ouvindo a coragem se esvaindo....Pffffft.
Nestes casos, nada resta a fazer a não ser recomeçar do início e tentar montar mais uma vez o motor... depois do descanso de cerca de um mês, enquanto se acostuma com a idéia.
Apesar de todas as precauções, pode acontecer outra vez; voce pode colocar um componente na sequência incorreta. Se isso acontecer , é necessário que observe o seu marcador de coragem. Evite a coragem do desespero, que o levará a repor o tempo perdido com trabalho excessivo. Em casos assim, costumam ocorrer ainda mais erros. Desta forma, se for preciso desmontar o motor mais uma vez, é imprescindível fazer o já mencionado intervalo."

" A coisa que mais me entedia é limpar a moto. No meu modo de ver, trata-se de pura perda de tempo. Em poucas horas, estará suja outra vez; é só andar um pouco com ela. Uma forma de não se aborrecer ao executar certas tarefas, como esfregar, trocar óleo e abastecer, consiste em fazer delas uma espécie de ritual. Trabalhar com coisas a que se está acostumado e com outras a que não se está tem um estética própria. Eu limpo a motocicleta como vou à igreja, não com a esperança de que aconteça algo de novo, mas para renovar meus conhecimentos com aquilo que já conheço bem.
Muitas vezes é bonito percorrer velhos caminhos conhecidos."


" A motocicleta na qual se trabalha, somos nós mesmos. A máquina que aparentemente "está lá fora" e a pessoa que aparentemente está aqui dentro não são, na verdade, duas coisas separadas.
Crescem juntas em qualidade ou distanciam-se dela."

Acho que entendi o que minha motocicleta estava precisando ao decidir vir para o retiro... me acostumar com a idéia de que a sequência das coisas foi errada, precisa ser refeita, e isso pode envolver tarefas entediantes e o aprendizado de novas técnicas, retrilhar velhos caminhos com um novo olhar.
Pode levar muito mais de um mês.
*smile*

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