quinta-feira, 4 de junho de 2009

portas e umbrais


Portas não são apenas passagens, são divisões entre mundos diferentes. Uma porta divide a privacidade sagrada do quarto da comunicação total do corredor, o recôndito do lar da rua, o sagrado do profano, a prisão da liberdade.

Desde a antiguidade os umbrais sempre foram vistos como uma área perigosa, porque ali na divisão voce não pertence a mundo nenhum. Muitas culturas penduram amuletos no batente das portas por causa disto, como a mezuzah judaica.
Mas daí eu penso, e as pessoas que vivem no umbral, que passam a vida inteira entre 2 mundos ?

Um imigrante nunca pertencerá por completo a nenhum dos mundos, a origem e o destino, em qualquer um que esteja faltará alguma coisa do outro e trará do outro alguma outra coisa.

As pessoas que vivem na divisão entre o mundo rural e o urbano sentem duramente estas diferenças, não se sentem completamente à vontade em nenhum dos dois.

Há casamentos interculturais onde os cônjuges, por mais amor que exista, nunca se sentirão plenamente completados, porque o outro difere muito da imagem primitiva da nossa cultura.... o mesmo vale para casamentos entre classes sociais muito diferentes.

Há casos estranhos... pessoas que vivem no umbral entre os mortos e os vivos.. como certos médiuns poderosos, que nunca estão completamente à vontade no mundo dos vivos, e em geral teem destinos dramáticos pelos riscos que o próprio umbral carrega.

Um caso mais estranho, uma pessoa que vive no umbral entre 2 vidas, com lembranças perfeitas da passada que atrapalham seus julgamentos e valores na presente... decisões e experiência de quem já lutou uma guerra para uma vida de agora, comum e sem grande significado.

Mas o umbral tambem pode ser mágico... pessoas que têm contato muito íntimo com a natureza são recebidas por seres elementais como duendes e elfos, porque integram estes 2 mundos naquele momento. Pessoas que vivem no umbral da meditação ou da oração podem perceber sinais ou avisos e estar mais conectadas com fontes de luz, com protetores.

Uma porta nunca é apenas uma porta, nem uma escolha, ela é em si mesma um risco, uma outra vida, um monumento guardando seu espaço de outro espaço. Passar por uma porta pode significar ser outra pessoa do outro lado, ter outro destino.
Ou não, porque ela dá passagem para os dois lados.

Difícil é ficar parado no umbral.

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