segunda-feira, 29 de junho de 2009

O rio e o tempo


Esta é a visão privilegiada que eu tenho do outro lado da minha calçada no retiro, um rio calmo mas em constante movimento, um ruído ao longe de água esbarrando em pedras e galhos, misturado ao coro das aves.

O tempo é um rio, ele só se move para a frente, e nada do que voce fizer vai poder realmente para-lo ou faze-lo recuar, só resta aproveitar o fluxo da melhor maneira possível e na passagem fazer frutificar as árvores em volta, florescer os matos e dar de beber às aves.
Este rio tem nos dado sustos... quando mudei para cá disseram que a última enchente havia ocorrido 11 anos atrás, e só nos últimos 30 meses já houve 6 delas, 2 das quais bastante sérias.

Parece que ultimamente o tempo está nos dando sustos tambem... existe um certo consenso entre as pessoas com quem converso de que o tempo está passando mais rápido, de alguma forma estamos sentindo que a duração do dia e da semana está encolhendo, e isso mesmo para pessoas que como eu já não estão mais numa fase profissional corrida.
Só posso deduzir, visto que os relógios atômicos atestam que o tempo continua o mesmo, que está havendo uma diferenciação nos seres humanos que navegam neste rio, serão eles que estão de alguma forma vivendo mais lentamente, saindo de sincronia?

A mudança "dos tempos" tem sido muito mais rápidamente percebida pela nossa geração do que pelas anteriores, a aceleração da história é palpável, e em certa medida incontrolável. Tudo hoje se espalha com uma rapidez assombrosa, uma coisa que é certamente fruto da Era de Aquário, decorrente da invenção dos computadores na década de 50 do século passado. Essa mudança envolve costumes, informação, referências, projetos de vida, conscientização e relacionamento com a humanidade em geral, tudo é global, politicamente correto, grupal, uma das manifestação da energia aquariana.

Essa nova etapa de desenvolvimento da humanidade tem deixado pouco espaço ao indivíduo, à individuação, à visão pessoal e principalmente ao crescimento pessoal multidisciplinar que era o brilhante da coroa do Iluminismo.
Infelizmente hoje tudo tem que ter consenso, poucas pessoas têm coragem de se assumir diferentes, de pensar diferente, e as que têm são cortadas do meio científico ou intelectual "estabelecido", parece que se criou na contra corrente uma mentalidade de apego ao tradicional e comprovado (que não deixa nada a dever à inquisição) para compensar o fluxo rápido demais do rio tempo.
Eu preferiria que meus filhos tivessem suas vidas adultas produtivas em outra época, onde ser um produto pasteurizado de uma formação acadêmica, social e intelectual nivelada pelo "estabelecido" (para não dizer mínimo) não fosse a regra.
Mas o tempo não volta, o rio não pára, e sabe Deus se o homem vai aprender a nadar neste rio acelerado rápido o suficiente para seguir adiante mantendo a cabeça fora da água, sem se afogar no processo.

O órgão físico responsável pela função intelectual no homem (sistema nervoso superior), que a natureza levou milhões de anos desenvolvendo, terá tempo e chance de se adaptar tão rápido (em termos evolucionários) para sobreviver e ser produtivo nestes tempos, sem sofrer danos no processo? O numero crescente de pessoas com disfunções mentais, e disfunções sociais como depressões, pânico, etc pode ser um indicador alarmante deste desajuste.

Cresci ouvindo uma "máxima" que dizia que o homem usa apenas 30% da capacidade do cérebro com que foi dotado.
Esta é minha esperança, de que haja realmente uns milhares de bites extras disponíveis de memória RAM e ROM em algum lugar à minha disposição.


adendo de Novembro/2010:  embora eu nunca tivesse sabido, há um livro com este nome, O Rio e o Tempo, do escritor americano Thomas Wolfe, que estou procurando adquirir para ler.  Considerem o título do post como plagio involuntário.
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