domingo, 31 de maio de 2009

Festa do Divino II

crédito foto: Felipe Corrêa

Hoje é o último dia da Festa do Divino aqui no retiro...milhares de visitantes, dezenas de pequenos grupos de congada e moçambique dançando ao redor do centro histórico, todos ao mesmo tempo , criando uma cacofonia folclórica e visual e transpirando um sentimento de devoção misturada com alegria..

Mas turista é irritante, mesmo.... tá certo que durante algum tempo eu fui turista aqui antes de me mudar para cá, mas eu sempre respeitei as tradições da terra e amei esta terra pela história que se respira aqui no dia a dia.
Hoje tive o desprazer de me sentar perto de uma senhora que veio ver a festa e achou tudo muito "pobrinho"... a comida distribuída é ruim (ela acha que nos pousos de tropeiros serviam caviar?), as congadas são cafonas e a festa é em si desorganizada.
Pergunto, o que ela veio fazer aqui? Ela veio ver uma festa antiga, popular, da época do Brasil colônia e império, onde os pobres agradecem o pouco que recebem, e achou pobre?
Hora de invocar a Lei do Terreiro: BATE PRÁ SUBIR, QUE TÁ ENCHENDO O SACO !

Não me lembro exatamente quando, mas num ano em que eu ainda tinha uma loja uma perua encostou no café e começou a desfiar o rosário: é um desorganização, eles dançam e tocam todos ao mesmo tempo.... devia anunciar o nome do grupo que vai se apresentar e dar 30 minutos para cada um.... aquilo me subiu na garganta e eu disse MAS AQUI NÃO É A SAPUCAÍ !!!!!! Senhora, esta musica e dança é a forma de oração deles! Ninguém veio aqui desfilar para turista, eles vieram por devoção! Obviamente na hora que antecede ao culto principal eles todos querem também fazer sua orações em forma de canção e dança....

Eu não sou carola, nem gosto mesmo de igreja, mas acho que cada um tem de ser respeitado em suas escolhas, e neste caso cabe a necessidade de um "respeito cultural" porque eles não ganham nada, ensaiam, fazem roupas especiais para manter vivas tradições de 500 anos...

Olhai, irmãos, se tem uma coisa que continua santa desde a Idade Média, é a ignorância. SANTA IGNORÂNCIA.

Mas falemos das coisas amenas da festa: adorei ver que há cada vez mais jovens nos grupos de congada, porque anos atrás estava ficando preocupante, o grupo tinha cerca de 60 anos em média.. palmas para os jovens que se engrenaram nas tradições e palmas para os anciãos que tiveram a paciencia de ensina-los. (a foto de cima ilustra bem isto).

Eu tenho uma percepção talvez inusitada desta festa... eu moro na margem do rio do outro lado, o lado oposto ao do centro histórico, e bem no final da avenida que acompanha o rio... aqui em casa não chega o som de todos os instrumentos da batucada das congadas, mas chega o som dos surdões que marcam o passo deles................tum tum .......tum tum .....tum tum...... igualzinho a um monitor cardíaco.

Para mim, o que fica desta festa é o som de um coração gigante batendo forte, que ecoa desde o amanhecer até o anoitecer deste dia.

Uma festa que fala ao coração.


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